Reportagem desta Folha ("Policiais influenciadoras exibem metralhadora, distintivo e farda nas redes", 27/12) critica mulheres policiais e ex-policiais por mostrarem em seus perfis no Instagram atividades como treinos com armamento pesado e por postarem fotos com símbolos da atividade policial.
Atualmente, todas as profissões estão expostas nas redes sociais. E com as carreiras policiais não é diferente. Sob o aspecto legal, entendemos que a conduta do policial civil, consistente na publicação da sua imagem nas redes portando arma de fogo, não caracteriza nenhum ilícito penal ou administrativo desde que respeite determinados parâmetros e observe certas restrições —entre elas, a proibição da apologia à violência e intolerância e da utilização da instituição para promoção pessoal. Ressalte-se que a apresentação do policial trajando uniforme operacional e ostentando armamento não viola nem mesmo a ética profissional, pois se insere no contexto do seu trabalho, ou seja, é inerente à função que ele exerce.
Prestes a entramos no ano de 2022, é inacreditável que reportagem como esta foque exclusivamente nas mulheres, já que a maioria dos perfis de policiais no Instagram são masculinos —menos de 15% do efetivo da segurança pública de São Paulo, por exemplo, é formado por mulheres.
A postagem de conteúdos nas redes sociais é hoje o meio de comunicação mais utilizado pelas pessoas no Brasil e no mundo, em especial, pelas mulheres, que compartilham suas rotinas, suas atividades profissionais, pensamentos, reflexões e muitas vezes publicam conteúdos com dicas sobre estudo, viagem, moda, culinária, maternidade, direitos das mulheres, política, ciência, medicina, entre outras —a depender da escolha de cada mulher.
Criticar ou criar obstáculos que impeçam as mulheres de se manifestar livremente é, no mínimo, uma censura machista. Se a censura, tão debatida, é nefasta para todas as pessoas, imagine às mulheres, que muitas vezes são silenciadas exatamente por terem medo da exposição.
Aliás, críticas dessa natureza ferem o princípio constitucional da equidade de gênero, em que homens e mulheres são iguais perante a lei. Por que fotos de mulheres com armas de fogo são merecedoras de críticas? Para a Folha, a mulher é livre desde que poste o que ela aprova? Se o inconformismo do jornal fosse apenas com eventual promoção pessoal pela utilização da farda e do armamento, deveria trazer na matéria fotos de homens policiais que também utilizam seus perfis para divulgar o cotidiano.
Já está na hora de pararmos de criticar as conquistas femininas e apoiar todas as mulheres, principalmente as que arriscam suas vidas para o bem da segurança pública, fardadas ou não.
Publicações como as das policiais e cidadãs criticadas demonstram que as mulheres podem e devem ocupar lugares de poder, de liderança e de profissões antes exercidas exclusivamente por homens, mostrando a nossa capacidade, a nossa ética e o nosso comprometimento, principalmente quando preenchemos cargos públicos. Para nós, é motivo de orgulho e admiração e serve de incentivo para as milhares de meninas e adolescentes brasileiras que sonham ser policiais.
Que tenhamos mais mulheres corajosas, mais mulheres que mostrem sua rotina e que lutem para que a frase "lugar de mulher é onde ela quiser" valha para todas nós.
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