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Sidnei Carriuolo

Não, o Carnaval não trouxe a Covid para o Brasil

É preconceito apontar desfile das escolas como culpado pelos primeiros casos

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Sidnei Carriuolo

Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo e da Águia de Ouro

De forma irresponsável e equivocada, a médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo atribui aos desfiles das escolas de samba a responsabilidade pelos primeiros casos e óbitos por Covid-19 em 2020 no artigo "Prioridade é reduzir transmissões" (15/1), publicado nesta Folha. Com todo o respeito ao desempenho da profissional no combate à pandemia, não é isso o que dizem os fatos e os dados.

No Brasil, o primeiro caso diagnosticado oficialmente foi o de um homem que retornou para São Paulo com sintomas após uma viagem à Itália. O caso foi detectado no dia 26 de fevereiro de 2020, quase 40 dias antes das primeiras confirmações oficiais de transmissão comunitária. Ele não passou pelo Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. O mesmo ocorre com os demais primeiros óbitos.

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Carro da Águia de Ouro no desfile de Carnaval de 2020 na cidade de São Paulo - Rivaldo Gomes - 23.fev.20/Folhapress

É óbvio, mas diante de tanta desinformação e preconceito disfarçado de opinião, ressalto que o Carnaval acontece logo após o período de festas, férias e viagens. Em 2020, entre janeiro e fevereiro, absolutamente tudo funcionava normalmente em São Paulo. É natural que se procure a origem do vírus para saber como combatê-lo, mas é falso e criminoso apontar o Carnaval do sambódromo como responsável pela disseminação da Covid-19 no país.

Hoje, há medidas sanitárias, vacinação em massa e testagem suficientes para garantir que jogos de futebol, festivais de música, rodeios, shows com público superior ao do Sambódromo do Anhembi, bares, shoppings, feiras e eventos de todos os tipos sejam realizados na capital paulista. Essas concentrações de pessoas estão acontecendo agora, com os protocolos já conhecidos. Faz sentido defender o cancelamento dos desfiles das escolas de samba de São Paulo, um evento essencialmente organizado, com regulamento rígido e regras, marcado para o fim de fevereiro, e fechar os olhos para toda a movimentação que acontece atualmente sob o argumento de exigir medidas de controle efetivas? Não.

O Carnaval foi muito afetado pela pandemia. Mas devo chamar atenção para a atuação das escolas de samba de São Paulo, que intensificaram seus projetos sociais, com ações de doação de alimentos, roupas, máscaras, cobertores e itens de higiene para pessoas em situação de rua. Para as comunidades adjacentes às quadras, foram oferecidos, de forma gratuita, serviços de saúde física e mental, apoio psicológico durante o luto, atividades extracurriculares, reforço escolar, cursinho pré-vestibular e profissionalizante, doações mensais de cestas básicas e até mesmo reformas de moradias. Algumas quadras tornaram-se postos volantes para vacinação, e galpões, onde são feitos os carros alegóricos,foram adaptados para fabricar EPIs (equipamentos de proteção individual) num momento de escassez.

Como cidadão, tenho o dever de defender a ciência baseada em evidências, incentivar a vacinação, o uso de máscara e todas as medidas eficazes contra a Covid-19. Mas também, como guardião do samba, defendo o trabalho responsável e contundente que fazem as escolas de samba de São Paulo e e convido você que lê este artigo a conhecer o Carnaval paulistano para além de fevereiro. Garanto que vai se surpreender.

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