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Números da ômicron

Recordes de casos com variante expõem falta de testes e imperativo da vacinação

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Criança vacinada contra a Covid-19 em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Faz mais de 50 dias, o Brasil confirmava seus primeiros caso de Covid-19 causados pela variante ômicron. Por cerca de metade desse tempo, o país não dispôs de dados bastantes para avaliar a evolução da epidemia. Atacados por terroristas digitais e pela incapacidade do governo, os sites do Ministério da Saúde ficaram fora do ar.

Mas a falta de informação não foi o motivo do novo surto de inoperância oficial. Mesmo diante de recordes diários de contaminações, do aumento do número de internações em UTIs e de uma quantidade de mortes que não se via desde meados de novembro (mais de 250 por dia), não houve mobilização nacional para conter a doença.

Ao contrário, ouviu-se mais propaganda contra a vacinação, de crianças em particular. Jair Bolsonaro chegou a dizer que a variante era "bem-vinda" —ideia sempre infundada, orientada pela tese da "imunidade de rebanho".

Especialistas especulam que o pico dessa nova onda de infecções poderia ocorrer em meados de fevereiro, baseados na evolução da doença em outros países. Entretanto o ritmo da contaminação por aqui é desconhecido, pois até o fim da primeira semana de janeiro não havia números confiáveis.

A julgar pelas internações em UTIs, há indícios de que o impacto mais intenso da ômicron começou depois das festas de fim de ano.

Em São Paulo, mais de 3.000 pessoas estavam internadas nos leitos de cuidados intensivos na semana que passou. Na média móvel de 7 dias, era o maior número de internações desta natureza desde meados de setembro de 2021.

Com ou sem informação, a partir do exemplo de outros países e da experiência própria, era necessário fazer mais do mesmo e mais rápido: vacinação, máscaras e testes.

Pelas evidências de filas, queixas de laboratórios, hospitais e profissionais de saúde, faltam testes. Sem eles, fica ainda mais difícil isolar pessoas contaminadas e conter a propagação da doença.

O número de casos é recorde, perto de 120 mil por dia, ante os 9.000 de pouco antes da chegada da ômicron, e é certamente subestimado.

Houve relaxamento, talvez motivado pela noção de que os males causados pela variante são mais brandos, em particular nos vacinados. No entanto os números crescentes de internados em UTIs e de mortes evidenciam o risco.

Além do mais, infectados podem ter sequelas e voltam a sobrecarregar hospitais, com o que se torna um problema cuidar de modo adequado de vítimas de outros males.

A população, felizmente, mantém a adesão elevada às vacinas, que agora chegam às crianças —a despeito da propagação de falsos temores por parte de Bolsonaro e suas milícias ideológicas.

editoriais@grupofolha.com.br

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