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Óbvio e necessário

Compromisso do chefe da FAB reforça distanciamento entre militares e Bolsonaro

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O comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junio - Sargento Bianca Viol/FAB/Divulgação

O comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, assumiu o cargo em abril de 2021 após a grave crise militar que derrubou seu antecessor e os chefes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, no fim de março.

Desde sua indicação, foi identificado como o mais bolsonarista dos escolhidos —noves fora o general da reserva Walter Braga Netto, que assumiu a Defesa e prontamente tomou tal credencial para si —e hoje é cotado para vice na chapa reeleitoral de Jair Bolsonaro (PL).

A fama do brigadeiro vinha da ação em redes sociais, por interagir na esfera próxima do presidente da República. No cargo, reforçou-a ao reafirmar, em tom ameaçador, críticas feitas por Braga Netto a uma declaração sobre corrupção entre os fardados feita pelo presidente da CPI da Covid.

Com tudo isso, é de particular interesse sua manifestação, em entrevista à Folha, ao ser questionado se os militares irão prestar continência a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou a qualquer outro vencedor do pleito de outubro.

"Lógico", resumiu Baptista Junior. Trata-se de um truísmo, por certo, e é sem dúvida desalentador que a questão tenha de ser colocada neste quarto ano sob Bolsonaro.

Divisões entre quartel e governo ficaram borradas —muito por ação do presidente, mas também por responsabilidade das Forças.

A caserna, afinal, apoiou a aventura bolsonarista e forneceu quadros, da ativa e da reserva, para compor o governo do capitão reformado. Obteve com isso sucesso em algumas reivindicações históricas, como a reforma das carreiras.

Ao mesmo tempo, empurrada por membros mais próximos ao Planalto, viu-se como bucha de canhão da campanha de guerra institucional tocada pelo mandatário. "Meu Exército" é algo que já faz parte da retórica de Bolsonaro.

Tal associação espúria chegou ao paroxismo no 7 de Setembro, para refluir desde então. Os militares celebraram a retirada do holofote diuturno; agora sinalizam um distanciamento maior, em especial no serviço ativo, que sempre foi mais resistente ao endosso.

O Exército determinou veto a fake news pandêmicas e demonstrou preocupação com violência eleitoral. A Marinha viu um almirante, o chefe da Anvisa, Antonio Barra Torres, peitar o presidente de forma inaudita. Neste momento, coincidência ou não, vem a declaração do brigadeiro —que de quebra até negou ser tão bolsonarista assim.

Se lamentável por necessária, a reafirmação do compromisso democrático de um comandante de uma Força Armada não deixa de ser saudável, além de insinuar um caminho para fora do labirinto em que os militares se meteram.

editoriais@grupofolha.com.br

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