Descrição de chapéu
Gabriela Lotta, Michelle Fernandez e Vitor Mori

Pandemia exige testagem e autoteste

Urge uma política nacional massiva para identificação e dimensão do contágio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gabriela Lotta

Professora de administração pública da FGV e professora visitante da Universidade de Oxford em 2021

Michelle Fernandez

Pesquisadora do Instituto de Ciência Política da UnB e pesquisadora-colaboradora do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz

Vitor Mori

Pós-doutorando na Universidade de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR

O ano de 2022 começou com uma nova variante do Sars-CoV-2, a ômicron. A maior transmissibilidade dessa variante impõe desafios importantes para a realidade brasileira e vem acompanhada por um apagão de dados oficiais sobre a pandemia.

No entanto, dados das redes privadas de saúde e de laboratórios apontam para o avanço rápido no número de casos no país e para o aumento das internações nos hospitais. Apesar de possivelmente levar a uma menor proporção de casos graves, por razões ainda não 100% claras, o crescimento no número de infecções é bastante alto, colocando-nos em alerta para uma situação crítica no sistema de saúde nas próximas semanas.

Mulher passa por teste de Covid em São Paulo - Danilo Verpa - 1.set.21/Folhapress

Essa nova onda requer ação imediata por parte dos governos e da população. Considerando, no entanto, os potenciais aprendizados que tivemos nos quase dois anos enfrentando a pandemia, elencamos aqui um conjunto de medidas para enfrentar novos e antigos desafios.

Em primeiro lugar, é urgente que retomemos a coleta e a disponibilização de dados oficiais. Há mais de um mês, devido a um suposto ataque hacker, os dados estão desatualizados e estamos navegando sem bússola. É responsabilidade do Ministério da Saúde voltar a disponibilizar esses dados de forma confiável.

Uma segunda prioridade é a vacinação infantil imediata. Quase um mês após aprovação da vacinação pela Anvisa, ainda não iniciamos a campanha que foi ainda adiada por um processo diversionista de consulta e audiência públicas. Ainda não há clareza no plano de vacinação e faltam imunizantes, aumentando o risco frente ao retorno das aulas presenciais.

Uma terceira medida é garantir que a população tome a dose de reforço. Pesquisas mostram que esta dose é essencial contra a ômicron e cabe, portanto, aos governos realizarem campanhas e busca ativa para garantir a vacinação.

A quarta medida é intensificar as campanhas para uso de máscaras. Dada a alta transmissibilidade da ômicron, é essencial que a população —especialmente trabalhadores— utilize máscara PFF2 em ambientes fechados e mal ventilados, onde o risco de transmissão é maior. Para tanto, além de campanhas de incentivo do uso correto de máscaras de qualidade, os governos deveriam investir em campanhas de distribuição destas máscaras, como tem sido feito pela sociedade civil. Em paralelo deve-se incentivar que pessoas evitem espaços fechados e deem preferência para lugares ao ar livre.

Uma quinta medida é a disponibilização de informações sobre as medidas de isolamento para infectados e quarentena para contatos. Temos presenciado um aumento descontrolado do contágio sem o devido acesso à informação sobre o isolamento. Isso leva a um cenário de sobrecarga de prontos-socorros, pessoas saindo do isolamento antes do tempo previsto e ausência de quarentena dos contatos. Caberia uma campanha massiva de informações sobre como proceder frente à suspeita de contágio —quais os sintomas a se ficar atento, qual a janela ideal para testagem, como se isolar, período de isolamento, quando procurar auxílio médico etc.— de forma a proteger os infectados e as pessoas a seu redor.

Por fim, seria necessária uma política nacional massiva de testagem para que pudéssemos identificar casos, realizar o isolamento corretamente e saber a dimensão do contágio. Para isso, além de disponibilizar mais testes para o SUS em todo território nacional, defendemos a aprovação dos autotestes. Eles são usados em diversos países e permitem uma testagem barata, fácil, rápida e em casa, evitando potenciais contatos.

A regulamentação nacional da Anvisa não autoriza a venda de autotestes, criando gargalos na disponibilidade de horários em farmácias e laboratórios. Tempos de emergências sanitárias requerem inovação, rapidez e facilidade. Trata-se de tecnologia barata e de fácil aplicação; não faz sentido que a população dependa de terceiros para proteger a coletividade.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.