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Sandra C. S. Vessoni e Maria Carolina Sabbaga

Pesquisa básica é fundamental

A ciência foi determinante, e o porvir é certo: enfrentaremos novas crises

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Sandra Coccuzzo Sampaio Vessoni e Maria Carolina Sabbaga

Respectivamente, diretora e vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Instituto Butantan

A pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil em março de 2020. O Instituto Butantan, criado há 120 anos, respondeu às necessidades da população e desenvolveu, em três semanas, um setor especificamente voltado para diagnóstico molecular do vírus Sars-CoV-2 (teste de RT-PCR) em grande escala.

A criação desta área em tempo recorde, sob a coordenação do Centro de Desenvolvimento Científico (CDC) do Instituto Butantan, só foi possível porque o corpo de pesquisadores do CDC, por meio de suas linhas de pesquisa, já conhecia e dominava as metodologias, os equipamentos e o mercado de fornecedores necessários a essa empreitada.

Em 2021, quando as novas variantes do Sars-CoV-2 mostraram-se alarmantes, o CDC estabeleceu o Centro Analítico de Genômica e Proteômica ​CAGP) e estruturou, juntamente com outros cinco laboratórios do estado de São Paulo, a Rede de Alerta das Variantes da Covid-19. A rede objetiva sequenciar os genomas dos vírus detectados em diferentes regiões do estado, identificando, em tempo real, a emergência de novas variantes virais. O tempo para a implementação e o início dos trabalhos da rede foi apenas aquele necessário para a chegada dos insumos, de forma que, desde a identificação mundial da primeira variante, a rede passou a acompanhar o panorama pandêmico da Covid-19 no estado e a municiar os diversos setores governamentais para as tomadas de decisão de ordem sanitária.

O sequenciamento genômico é complexo. Envolve, além da determinação da sequência genômica das amostras virais, uma outra etapa ainda mais especializada, que exige a participação de bioinformatas, profissionais que precisam dominar tanto a biologia como a estatística e a linguagem de computação. Quando a rede foi estabelecida, todos os laboratórios envolvidos já contavam com os equipamentos necessários e dominavam a complexa metodologia requerida para a detecção de variantes.

O domínio da metodologia de sequenciamento genético foi consolidado em São Paulo em 1997, quando a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) organizou a Rede Onsa (Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos, na sigla em inglês), que reuniu, inicialmente, 30 laboratórios de diferentes instituições de pesquisa do estado. Essa rede foi fundamental para o Programa Genomas Fapesp, que começou logo depois com o projeto para o sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, uma bactéria causadora de doenças em plantas.

Com essa iniciativa, a Fapesp forneceu insumos e equipamentos e criou o ambiente necessário para que os cientistas trocassem informações e adquirissem experiência no assunto. Com a contínua evolução de projetos gerados a partir de perguntas originadas das ciências básicas, nossos cientistas, pós-graduandos e alunos estabelecem colaborações no âmbito nacional e internacional, mantendo a ciência brasileira na fronteira do conhecimento.

Foi, portanto (e ainda é), com investimentos desse tipo, voltados para a pesquisa básica, que os nossos cientistas, atuantes em diversas linhas de pesquisa, puderam e podem dotar o país com tecnologia de ponta. Foi esse o cenário que garantiu que os laboratórios da rede estivessem prontos para realizar o sequenciamento do Sars-CoV-2 com a urgência que a pandemia impôs.

Nesta tragédia de saúde pública, a ciência serve de alento à população. Através dela se desvendou rapidamente a biologia do vírus, os mecanismos da doença, seu tratamento e, em tempo recorde, a produção de vacinas. Graças ao domínio de tecnologias de ponta foi possível auxiliar a saúde pública provendo testes em números exponencialmente crescentes e informações em tempo real sobre as seguidas mutações do vírus. De forma clara, demonstrou-se a importância da pesquisa básica consolidada para uma demanda emergencial. A população, por sua vez, aprendeu a confiar e esperar de nós, cientistas, as soluções.

O porvir é certo: enfrentaremos novas crises. A ciência mostrou-se fundamental para as respostas rápidas às questões críticas para o desenvolvimento da sociedade.

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