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Transtorno histórico, buracos de rua se proliferam com chuvas em São Paulo e exigem ação integrada

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Buraco em rua do bairro do Sacomã, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

"A rua Conselheiro Furtado, a cerca de sete minutos de bonde do centro da cidade de São Paulo, está há muito tempo em lamentável estado de ruína, com buracos enormes por toda a parte. (...) Nas épocas de chuva, formam-se atoleiros pavorosos, nos quais se afundam carroças, automóveis e pedestres."

À exceção dos bondes e das carroças, é possível dizer que o cenário atual de parte considerável das ruas e avenidas da capital paulista não mudou tanto assim passados mais de cem anos da reportagem acima, publicada em 14 de março de 1921 na Folha da Noite, periódico que precedeu esta Folha.

Na São Paulo dos anos 20 —agora do século 21—, este jornal noticiou que a maior e mais desenvolvida metrópole do país aguarda o reparo de cerca de 2.000 buracos.

Os pedidos de conserto aludem apenas a solicitações feitas pelos paulistanos até o fim de 2021 e que ainda não haviam sido atendidos até terça-feira (11) pelo programa Tapa-Buraco, da gestão Ricardo Nunes (MDB) —ou seja, não contabilizam as avarias que certamente surgiram neste ano e as que não foram alvo de queixas formais.

A Folha percorreu parte dos quase 50 mil logradouros da cidade e se deparou com buracos, desníveis e crateras de toda sorte. O quadro se agravou neste começo de janeiro em razão das chuvas frequentes, que danificam o pavimento. Registre-se, contudo, que a condição atual ainda é melhor que a de dezembro de 2020, quando 8.000 buracos esperavam por manutenção.

Há de se ponderar que, assim como o trânsito e a poluição, a buraqueira nas vias públicas é, lamentavelmente, parte da vida paulistana. Crescimento desordenado, material de má qualidade, sustentação frágil sob a camada asfáltica, manutenção irregular e drenagem inadequada, entre outros malfeitos e improvisos, potencializam um tormento que provoca prejuízos e, não raro, acidentes com motoristas e pedestres.

Estes, a propósito, enfrentam algo parecido ou ainda pior nas calçadas e passeios.

O problema, de fato, exige mais do que ações emergenciais. Em que pesem vultosos recursos aplicados em reparos e recapeamentos pelas últimas administrações, urge desenvolver amplo mapeamento da malha, promover reestruturação das vias mais deterioradas e adotar monitoramento minucioso, além de investimentos em ciclovias e transporte coletivo.

Caso contrário, São Paulo continuará, literalmente, tapando buracos.

editoriais@grupofolha.com.br

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