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Retrato da invasão

Pesquisa mostra perfil complexo e preocupante dos responsáveis pelo ataque ao Capitólio

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Jacob Chansley, o mais famoso dos invasores do Capitólio, nos EUA - REUTERS/Stephanie Keith

A célebre imagem de um homem fantasiado de viking na invasão do Capitólio, há um ano, pode ter passado a impressão de que os responsáveis pela ação se resumiam a fanáticos afiliados a grupos extremistas.

O cenário identificado por uma pesquisa da Universidade de Chicago com base no perfil dos invasores é bem mais complexo e preocupante. Mais da metade são empresários ou trabalhadores não manuais.

Praticamente todos têm ao menos o ensino médio completo, e um terço, curso superior ou pós-graduação. Apenas 1 em cada 7 tem ligação com grupos radicais.

Outra conclusão da pesquisa é alarmante: 8% dos americanos adultos acham justificável o uso de violência para reverter a eleição de Joe Biden com base em suposta existência de fraudes. São 21 milhões de pessoas, ou uma Grande São Paulo, dispostas a praticar atos ilegais de força para reinstalar Donald Trump na Casa Branca.

O estudo mostra como é simplista atribuir o fenômeno da ultradireita a uma minoria de desajustados manipulada por populistas que exploram a precariedade da economia. Parece haver uma razão mais profunda a atrair pessoas bem estabelecidas profissionalmente para processos de radicalização.

Uma hipótese apontada é a avaliação de homens brancos de que sua posição social estaria ameaçada por imigrantes e minorias.

Este cenário não é exclusividade americana. Na França, o candidato presidencial Eric Zemmour abraça a teoria do "declinismo", gerado pela ascensão de grupos muçulmanos, enquanto no Chile José Antonio Kast chegou ao segundo turno da recente eleição prometendo construir um fosso na fronteira norte do país contra imigrantes.

No Brasil, o discurso anti-imigração não tem a mesma força, mas é compensado por "ameaças" exploradas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), das novas expressões de gênero às ações compensatórias raciais.

Na campanha que se avizinha, o presidente deverá ter como estratégia alimentar o sentimento de que a coesão social está sob risco em meio a este novo ativismo identitário.

O risco é o radicalismo presidencial adentrar o mainstream por aqui também, gerando uma situação potencialmente perigosa, especialmente em caso de eleição contestada. Não é um cenário impensável: no passado, setores médios e empresariais já deram mostras de que são permeáveis à retórica do capitão.

editoriais@grupofolha.com.br

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