Uma das muitas coisas de que o governo Jair Bolsonaro (PL) nos privou foi a possibilidade de confiar nas orientações técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde.
Nos últimos tempos, a pasta, que deveria ser um polo de divulgação de boa informação científica, mostrou-se mais de uma vez fonte de fake news —chegou a escrever há pouco numa nota técnica que a hidroxicloroquina era efetiva no manejo da Covid-19, e a vacina não.
Mas o ministério conta com um corpo qualificado de servidores e consultores, que, a despeito das lambanças da cúpula, continuam a produzir documentos de qualidade e relevância. É o caso do texto recém-divulgado que concluiu não haver ainda dados que permitam recomendar a todos uma quarta dose de imunizante.
Por ora, apenas imunossuprimidos recebem o reforço adicional. A dúvida sobre estender a medida ao restante da população não assola apenas as autoridades brasileiras, mas as de todo o mundo.
Até aqui, apenas Israel começou a ministrar a quarta dose de forma mais disseminada. Nesta quarta (9), o governador João Doria (PSDB) afirmou que pretende fazê-lo em São Paulo, sem fixar data.
No país do Oriente Médio, os resultados, ainda preliminares, mostram um aumento de duas vezes na proteção contra infecções e de três contra quadros graves. É preciso, entretanto, considerar que se trata de uma população pequena e vacinada muito rapidamente.
Já se contam alguns meses desde que os idosos israelenses receberam sua terceira dose, e é até certo ponto esperado que sua imunidade comece a decair. Ademais, Israel usou quase exclusivamente vacinas de RNA (Pfizer e Moderna), enquanto nós nos servimos de uma combinação bem mais variada.
O efeito de uma quarta dose depende não apenas dos fármacos utilizados mas também do nível de circulação do vírus. Quem teve a doença e foi vacinado está mais protegido do que quem só passou por uma das experiências.
É bastante provável que populações mais vulneráveis, como idosos e portadores de comorbidades, ainda precisem receber reforços, mas o nível de evidência à nossa disposição ainda não é suficiente.
Será preciso atenção às taxas de hospitalização e óbitos dos diferentes recortes demográficos. Daí surgirão os sinais mais confiáveis para uma tomada de decisão.
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