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Buraco metropolitano

Obra que provocou cratera em SP resume trapalhadas da gestão tucana do metrô

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Cratera aberta na marginal Tietê por obra do metrô, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

O acidente desta semana nas obras da linha 6 do metrô de São Paulo, que gerou uma enorme cratera numa das vias da marginal Tietê, chama a atenção para os problemas crônicos da expansão metroviária paulista e mancha uma das principais vitrines eleitorais do governador João Doria e de seu vice, Rodrigo Garcia, ambos do PSDB.

Segundo a Sabesp, uma tubulação de esgoto acabou rompida durante a passagem do tatuzão, o mastodôntico equipamento responsável por perfurar os túneis do metrô, fazendo ceder o asfalto.

Anunciada no longínquo ano de 2008, ainda no governo José Serra, a linha 6 constitui uma espécie de epítome das tribulações que marcam a longa gestão tucana do metrô —e o desmoronamento, apenas o revés mais recente de uma história de atrasos, interrupções, acidentes, rescisões de contratos e prejuízos para os paulistanos.

A expectativa original era que as obras teriam início em 2010, com as primeiras estações sendo entregues já em 2012. Tais esperanças, porém, logo foram frustradas.

Os trabalhos na linha, concebida como uma parceria público-privada e planejada com 15 estações, só começaram de fato em 2015, após o consórcio formado pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC Engenharia ter vencido a licitação para construí-la e operá-la.

No ano seguinte, contudo, as ações foram paralisadas. Investigadas pela Lava Jato, as três empreiteiras desistiram do empreendimento, que permaneceu por anos praticamente abandonado.

Ao tornar-se o governador, em 2019, Doria retomou a obra, que foi assumida pela empresa espanhola Acciona e tinha inauguração estimada em 2025 —mais de uma década além da previsão inicial.

O governador pretendia fazer do projeto um de seus trunfos na corrida presidencial, além de cartão de visitas da candidatura de Garcia ao governo paulista.

Com investimentos na casa dos R$ 15 bilhões, a linha 6 era anunciada, na propaganda oficial, como a "maior obra de infraestrutura em execução" na América Latina e o "investimento de maior impacto" na economia do estado.

A operação de marketing tende, agora, a se voltar contra Doria e Garcia, já que o episódio será explorado pelas campanhas adversárias. Jair Bolsonaro, por exemplo, fez troça do incidente, afirmando tratar-se da transposição do rio Tietê. Resta, além de suportar a zombaria, apurar responsabilidades.

editoriais@grupofolha.com.br

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