Em decisão esperada, o Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros, para 10,75% ao ano, o maior nível desde 2017. A volta do custo do dinheiro aos dois dígitos decorre de persistentes pressões inflacionárias, em parte globais, mas também relacionadas ao malogro da gestão econômica do governo.
A alta foi de 1,5 ponto percentual, a terceira seguida dessa magnitude. Sensível ao fato de que em seus modelos de projeção o nível atual da Selic já abala fortemente a atividade produtiva, o BC indicou que deverá reduzir a dose do aperto nas próximas reuniões.
É o primeiro sinal de que a campanha se aproxima do final, embora os ajustes residuais possam levar a taxa para algo em torno de 12% nos próximos meses. De todo modo, o quadro permanece incerto.
O ano ainda começou ruim, com leituras elevadas de inflação —inclusive nos itens mais sujeitos à inércia, como serviços, que mostram variação muito acima das metas para 2022 e 2023 (que são de 3,5% e 3,25%, respectivamente).
A prévia referente a janeiro do principal índice ao consumidor, o IPCA, ficou acima das expectativas e acumula 10,2% em 12 meses.
Enquanto isso, o encarecimento das matérias-primas e da energia no mercado internacional mantém o risco de novos repasses. A resposta do governo Jair Bolsonaro, como sempre tem sido o caso, recai no populismo destrutivo.
A proposta de isentar de impostos os combustíveis prejudica as claudicantes contas públicas e ameaça efeitos colaterais, como uma nova escalada do dólar, o que agravaria o problema —fenômeno, aliás, observado no ano passado, quando o governo alterou o teto constitucional de gastos e promoveu um calote nos precatórios.
Um dos principais elementos considerados pelo Banco Central é justamente a falta de compromisso com a solidez fiscal.
Mesmo com essas incertezas, o aperto desde março do ano passado (quando a Selic estava em 2%) já atingiu dimensão suficiente para controlar a inflação, que deve cair nos próximos meses. A projeção mediana de analistas para 2022 está em 5,38%, ainda muito acima da meta. Mas já se antevê uma convergência no ano seguinte.
O custo para tal trajetória é uma sensível desaceleração da atividade econômica, que já se fez sentir nos últimos meses. Será surpresa se o PIB crescer mais de 0,5% neste ano. Por essa razão, fará bem o BC em dosar restrições adicionais, que devem ser mais moderadas.
Novamente a tarefa de controlar a inflação é conduzida apenas com a ferramenta usual dos juros altos, com enormes prejuízos para o país. Recuperar a credibilidade da política econômica será tarefa urgente da próxima administração.
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