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O futuro da Petrobras

Estatal põe ênfase em rentabilidade em detrimento de plano de descarbonização

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Plataforma de exploração do pré-sal a 240 km da costa do Rio - Mauro Pimentel - 10.nov.17/AFP

O inédito lucro anual de R$ 106,6 bilhões em 2021 e a promessa de distribuir R$ 37,3 bilhões em dividendos põem a Petrobras em posição brilhante. À vista curta, parece uma das empresas petrolíferas mais atraentes do mundo.

A rentabilidade da companhia se destaca no setor, com 34,6% de margem líquida, segundo dados da base Economática nos 12 meses até 30 de setembro. Gigantes como ExxonMobil (-2,5%), Chevron (7,1%) e BP (4,6%) ficam bem atrás.

No entanto o valor de mercado da Petrobras equivale a meras 2,3 vezes sua geração de caixa (Ebitda). Uma indicação de que a confiança na robustez da petroleira é limitada, na comparação com essas congêneres: ExxonMobil (9,6 vezes), Chevron (7,8) e BP (7).

Existem várias razões para explicar a valoração contida, que incluem os caprichos de um governo disfuncional e populista como o de Jair Bolsonaro (PL) —sempre pronto a ameaçar o interesse de investidores minoritários intervindo na alta direção da companhia e atacando sua política de preços.

No Brasil se dá pouca atenção, contudo, ao risco estratégico implícito na atitude da Petrobras diante das mudanças climáticas e das políticas de governança que o mundo vem desenhando para enfrentá-las. Todos agem como se o Acordo de Paris (2015) e a COP26 (2021) não tivessem sido mais que simpósios acadêmicos.

Com maior ou menor grau de consequência, outras petroleiras propõem transformar-se em empresas de energia limpa. Posicionam-se para o provável encarecimento do crédito e a tendência de desinvestimento impostos a combustíveis fósseis pela meta de cortar pela metade emissões de carbono até 2030 e zerá-las em 2050.

Na contracorrente, a Petrobras manteve decisão, em seu plano estratégico de cinco anos, de não investir na geração de energia renovável, como usinas eólicas e fotovoltaicas. O tema permanece mais restrito à sua área de pesquisas, enquanto o foco da produção prossegue no alto rendimento do pré-sal.

A estatal aderiu ao compromisso de neutralizar emissões de carbono até 2050, mas se esquiva de apostar de modo criterioso e decidido em fontes alternativas, as quais renderiam menos que seus poços de profundidade.

Para alcançar a descarbonização, a empresa dependente de combustíveis fósseis terá de contar em poucas décadas com tecnologias ainda incertas e provavelmente custosas.

editoriais@grupofolha.com.br

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