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O que a Folha pensa

O irmão Orbán

Bolsonaro se exibe para apoiadores ao lado de referência da direita autoritária

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O presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán - Atila Kisbenedek/AFP

"Meu irmão, dadas as afinidades", foi como Jair Bolsonaro (PL) definiu sua relação com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, em visita improvisada ao país europeu —marcado por escalada autoritária que inclui o controle de Judiciário, Legislativo e imprensa.

Ao abraçar calorosamente o autocrata húngaro e proferir um discurso entusiasmado, o mandatário brasileiro esteve à vontade ao lado de uma das referências da direita populista global, condição que também disputa. Repetiu o mote fascista "Deus, pátria e família", acrescentando "liberdade" à lista.

Como Bolsonaro, Orbán, que está no poder desde 2010, enfrentará uma eleição árdua neste ano: em abril, sua posição será desafiada por uma oposição multipartidária pela primeira vez unificada sob a liderança do conservador independente Péter Márki-Zay.

Não por acaso, o premiê determinou um congelamento de preços de alimentos; no Brasil, o presidente a toda hora ensaia intervir nos preços dos combustíveis.

Na cantilena reacionária, Orbán afirmou que "os cristãos têm a religião mais perseguida do mundo"; que disputará uma "eleição para proteger as crianças", fazendo referência a um plebiscito sobre leis anti-LGBTQIA+ que ocorrerá em paralelo ao pleito; que "a migração é um fenômeno negativo".

Não é novidade a afinidade entre Bolsonaro e o nacionalista húngaro —que, em 2019, foi um dos poucos líderes estrangeiros presentes à posse do presidente brasileiro.

Naquele ano, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), herdeiro ideológico do pai, visitou o país europeu. Também a ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, discursou na Cúpula da Demografia, realizada em Budapeste, quando defendeu que o Brasil, sob novo governo, voltara "a ser um país da família".

Para além do proselitismo conservador, pouco de prático foi realizado. Bolsonaro assinou três memorandos, inclusive em cooperação na área de defesa nacional.

Apesar de a Hungria ter comprado da Embraer dois cargueiros militares KC-390 por US$ 300 milhões, negócio fechado em 2020, os dois países não mantém volumosa balança comercial (US$ 457 milhões são importados pelo Brasil e US$ 62 milhões, exportados).

O que interessava de fato a Bolsonaro e Orbán era acenar a apoiadores domésticos e internacionais. No que diz respeito à política externa, ambos contribuem para levar seus países à condição de párias no cenário global.

editoriais@grupofolha.com.br

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