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O que a Folha pensa Rússia

A ação possível

Imperfeitas, sanções são melhor arma contra Putin; alternativa seria a 3ª Guerra

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Andrey Gorshkov/AFP

Em pouco mais de uma semana desde que decidiu unilateralmente invadir a Ucrânia de forma brutal, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não obteve ainda uma vitória militar decisiva contra o vizinho.

O russo logrou, contudo, um feito talvez tão ou mais impressionante do que a eventual queda de Kiev: ele viu seu país ser desligado do sistema internacional, setor por setor, gerando um isolamento nunca antes visto na globalização.

Mesmo as sanções que punem o Irã há anos, devido a suas ambições nucleares, nunca chegaram perto da ação contra a agressão russa. Trata-se, pelo valor de face, de uma demonstração saudável de que talvez não haja mais espaço no mundo para tal tipo de comportamento sem consequências duras.

Mas a questão tem mais nuances do que os clarões das bombas permitem ver neste momento.

Primeiro, há uma série de impactos secundários das medidas que já ameaçam afetar a economia mundial, da qual a Rússia constituía uma peça importante da engrenagem por seu peso no mercado energético e de alimentos.

A flutuação dos preços futuros nesses setores, com a inevitável inflação que será exacerbada pelos temores, é só um primeiro sinal. O exame de restrições de fato ao fluxo de hidrocarbonetos russos pelos Estados Unidos prenuncia um terremoto em potencial.

Há considerações éticas. O mundo ocidental vive uma onda de cancelamentos de tudo o que for russo, inclusive de pessoas que vivem há anos longe do reino de Putin.

É errado punir artistas exclusivamente por sua nacionalidade, da mesma forma como seria absurdo banir autores clássicos como Fiódor Dostoiévski, para ficar em apenas um nome.

Para além da discussão sobre se houve exageros, há limites práticos para o efeito das sanções. Até aqui, não impediram o derramamento de sangue nem sinalizam qual possa ser o desfecho da guerra.

Isso dito, são o instrumento possível de uso pelo Ocidente no momento, combinado com um apoio cada vez mais intenso aos ucranianos na forma de envio de armas.

A ideia de os Estados Unidos (e seus aliados europeus) instalarem uma zona de exclusão aérea em território com predomínio russo, como desejava o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, implicaria nada menos do que empurrar o mundo para uma Terceira Guerra. Talvez do tipo nuclear, como Putin sempre lembra.

O russo parece ter entendido o jogo, embora no mesmo dia tenha sugerido que mais restrições poderiam equivaler a uma escalada de conflito. Por ora, resta ao Ocidente esperar os efeitos de suas medidas.

editoriais@grupofolha.com.br

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