Os dados do Saresp, o exame que avalia as habilidades acadêmicas dos alunos da rede paulista, confirmaram as piores expectativas quanto aos impactos da pandemia no aprendizado. Como se esperava, o longuíssimo período sem aulas presenciais levou a um desastre educacional, a demandar ações urgentes do poder público.
Os resultados da prova, aplicada em dezembro a cerca de 640 mil alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio da rede estadual, evidenciam que crianças e jovens não só não progrediram tanto quanto deveriam como tiveram retrocesso nas duas áreas avaliadas, língua portuguesa e matemática.
Os números mais preocupantes vieram dos concluintes do ensino médio, cujas notas médias nas duas disciplinas foram as menores desde que o exame foi implementado, em 2010. Só 3,2% dos alunos apresentaram um desempenho considerado adequado em matemática; em português, foram 24%.
Assim, a esmagadora maioria dos que terminam a educação básica se mostra incapaz de identificar uma simples figura geométrica ou identificar o objetivo central de um texto curto.
Já a regressão em relação à avaliação anterior foi mais acentuada no 5º ano do fundamental.
A média em língua portuguesa caiu 8,6% na comparação com a prova de 2019, retrocedendo para um patamar semelhante ao de 2012. Cerca de metade desses estudantes não consegue compreender a mensagem de um cartaz com poucas frases e uma ilustração.
Em matemática, a queda foi ainda mais expressiva, de 9,1%, com o menor rendimento desde 2013.
Além de atestar os efeitos nocivos do fechamento prolongado das escolas, a piora geral do nível de conhecimento evidencia também as falhas do ensino remoto. Seja por suas limitações intrínsecas, seja por problemas e atrasos na implementação, o fato é que o modelo digital não conseguiu impedir a marcha à ré estudantil.
Agora que os alunos retornam às salas de aula, impõem-se, em primeiro lugar, corrigir as defasagens de ensino acumuladas e impedir o abandono escolar daqueles que apresentam maior dificuldade.
Para tanto, as medidas emergenciais propostas pela Secretaria da Educação paulista —mudanças no currículo, reforço escolar, avaliações bimestrais e reorganização temporária de turmas— parecem um caminho para evitar que uma geração de estudantes venha a ter o seu futuro comprometido.
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