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Suely Vilela

Enquanto isso, o país patina na educação

Quem perde com o escândalo são as nossas crianças

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Suely Vilela

Professora da FCFRP-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo), é ex-reitora da USP (2005-2009)

O áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro, revelado por esta Folha, é um escândalo para todos nós que defendemos uma educação de qualidade como caminho para a construção de um país desenvolvido.

Enquanto diversos artigos e pesquisas apontam para a necessidade de priorizar recursos da educação de forma técnica, vemos o governo federal tratar o assunto baseando-se em critério religioso para tomar decisões no ministério. É inadmissível e absurdo, demonstrando absoluto descaso e irresponsabilidade com a instituição e com os brasileiros.

Na conversa, é possível identificar o ministro da Educação declarando para prefeitos e gestores que a distribuição de verbas do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação) se dá não pela questão técnica, mas por indicação de dois pastores amigos do presidente da República. Trata-se do aparelhamento da máquina pública com a criação de um gabinete paralelo no MEC. Um gabinete com orçamento secreto comandado por pastores. Trata-se, também, de favorecimento ilícito de verbas públicas.

Não são poucos os relatos de municípios que têm carência de recursos para realizar questões básicas ligadas à educação, como trocar ventiladores de sala de aula, por exemplo.

Quem perde com isso é o Brasil, que deixa de se desenvolver, e nossas crianças, que têm lesado o seu direito básico a uma educação de qualidade que dê a elas oportunidades de se desenvolverem.

Um recente estudo, realizado pela PwC Brasil em parceria com o Instituto Locomotiva, aponta que os estudantes brasileiros têm um dos piores desempenhos em matemática, leitura e interpretação de textos, algo que reflete negativamente no mercado de trabalho. Esse mesmo estudo aponta para a desigualdade de acesso à internet dos estudantes brasileiros. Mais de 8 milhões de alunos da rede pública não possuem acesso à internet banda larga.

São áreas que certamente poderiam ser contempladas com recursos do FNDE, mas que são tratadas com absoluto descaso por questões políticas. Esse tratamento é que tem levado a educação brasileira para o colapso que estamos vivenciando nos últimos anos. É preciso que os governantes vejam a educação como política de Estado, acima de interesses políticos ou partidários.

Outro estudo, divulgado pelo professor Naercio Menezes Filho, do Insper, mostra que a cada ponto no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) há uma melhora em indicadores ligados à empregabilidade, segurança e educação. Segundo o trabalho, foi verificado que o aumento de um ponto no Ideb está ligado a uma alta de 200% nas taxas de emprego entre jovens de 22 a 23 anos, à ampliação de 15% nas matrículas no ensino superior e à redução de 25% de homicídios.

Sobre o áudio do ministro, é necessário que seja feita uma investigação séria sobre a distribuição desses recursos no Brasil nos últimos anos para identificar quais recursos foram destinados, com que critérios e como eles foram empenhados.

A educação é a principal ferramenta de transformação social de um país e deve ser tratada com seriedade e responsabilidade.

É o futuro das nossas crianças e do país que está em jogo.

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