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Dom Walmor Oliveira de Azevedo

'Fala com sabedoria, ensina com amor'

Campanha da Fraternidade de 2022 convida o país a refletir sobre a educação

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Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)

Com o tema "Fraternidade e Educação" e o lema "Fala com sabedoria, ensina com amor" (cf Pr. 31,26), a Campanha da Fraternidade (CF) de 2022, a ser realizada pela Igreja Católica em todo país no período da Quaresma, convida a igreja e a sociedade brasileira a refletirem sobre realidade educativa do país. Essa é a terceira vez que o tema educação é apresentado pela CF, sendo as outras em 1982 e 1998.

Dois eventos no cenário internacional ensejaram a escolha do tema da Educação para a Campanha da Fraternidade de 2022: o convite do papa Francisco a um Pacto Global pela Educação e a pandemia de Covid-19, que potencializou fragilidades que já estavam em curso no cenário educacional brasileiro. Considerando estes dois pressupostos, a CF 22 tem como objetivo propor diálogos, para que, à luz da fé cristã, sejam reconhecidos os avanços e conquistas da educação no país e que sejam propostos aos desafios caminhos em vista de um humanismo integral e solidário.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - Arquivo Arquidiocese de BH

Segundo dados do Censo Escolar de 2018, aproximadamente um terço da população brasileira está envolvida com a educação formal, seja como estudantes, professores ou colaboradores. Estima-se que existem 47 milhões de estudantes na educação básica e 8 milhões de estudantes na educação superior, segundo o censo. Este imenso contingente, como outros setores da sociedade, foi diretamente afetado pela pandemia e suas consequências. As desigualdades já existentes no campo educativo foram ainda mais potencializadas, uma vez que muitos estudantes não tiveram acesso aos meios digitais, foram agravados os problemas de saúde mental no quadro dos professores e no âmbito da educação superior, aumentaram os índices de evasão escolar e acadêmica e foram ampliados os problemas de violência doméstica, com o aumento da exposição à convivência familiar

Partindo do patrimônio bimilenar do humanismo cristão, o texto da Campanha da Fraternidade recolhe inspiração na pedagogia de Jesus, apresentada no seu encontro com uma mulher acusada de adultério, conforme relato das escrituras judaco-cristãs (Ev. João 8, 1-11). Na oportunidade, se contrapõem duas pedagogias: a pedagogia de algumas expressões judaicas do ambiente semítico, marcada pelo legalismo e cumprimento obstinado da lei, e a pedagogia de Jesus Cristo, pautada pela escuta contextualizada, no diálogo respeitoso e no agir comprometido com o destino da pessoa humana. O modelo pedagógico de Jesus, que foi custodiado, ao longo da história, pela Igreja Católica nas suas práticas de humanismo cristão no campo da educação, a partir da visão integral da pessoa humana, é apresentada como contribuição para a sociedade brasileira no âmbito educativo.

Há uma certa concordância de que a educação é elemento primordial na edificação da sociedade, e a partir deste pressuposto a igreja, por meio da CF 2022, oferece sua contribuição somando forças com muitas outras instituições, governos e organizações da sociedade civil na construção de caminhos alternativos para colocar a educação no centro das discussões e despertar o compromisso com sua efetivação como direito fundamental reconhecido pela Constituição Federal de 1988 nos artigos 6º e 205º.

É sabido que apenas o Estado não consegue dar conta de efetivar esta garantia constitucional. Em virtude disso, as instituições educativas confessionais, juntamente com outras instituições filantrópicas, cooperam com o Estado na sua obrigação. Segundo censo do Fonif (2018), 2,2 milhões de alunos, da educação básica à universitária, com 600 mil bolsas, são atendidos pelas instituições educativas filantrópicas, sendo que, do total, 1,5 milhão é oriundo de instituições confessionais católicas (Censo Anec).

Embora apresentemos estes dados sobre a educação formal, o texto da CF22 apresenta uma compreensão abrangente da educação, entendida como todas as experiências formativas na vida da pessoa, não se reduzindo somente ao aspecto escolar. Dessa forma, a campanha convida a pensar e avaliar como a sociedade brasileira tem assumido seu papel educativo e qual projeto de sociedade está presente no horizonte das práticas educativas.

O texto base da CF ainda observa que, dado a complexidade da tarefa de educar, considerando uma visão integral de pessoa humana, em vista de um projeto de sociedade que seja mais justa, solidária e fraterna, precisam estar pactuados a família, a comunidade de fé e a sociedade. Neste empenho, igreja, família e sociedade, em colaboração com as instituições de ensino, precisam compor a "aldeia educativa" pela qual todos são corresponsáveis pela educação das novas gerações.

Possuímos uma tarefa árdua de reconstruir o tecido da sociedade que se encontra esgarçado pela pandemia, do ponto de vista sanitário, econômico, político e social, com impactos diretos no âmbito da educação. Relembrando a história das campanhas da fraternidade, percebe-se o papel mobilizador das mesmas na vida da igreja e da sociedade brasileira, despertando ao compromisso comunitário com a transformação da realidade à luz da fé. Que nossa opção pela educação, hoje, transforme os projetos de vida de inúmeros brasileiros num projeto de sociedade mais justa, sustentável, fraterna, equânime, capaz de reparar situações historicamente determinadoras de injustiças sociais.

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