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O que a Folha pensa cracolândia

Gato e rato na cracolândia

Feira de drogas muda de endereço, mas tensão é crescente, e futuro, incerto

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Ruas da cracolândia ficam vazias no centro de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Entre o espanto e o alívio, moradores e comerciantes do entorno da praça Júlio Prestes, no centro da cidade de São Paulo, festejaram no último fim de semana a dispersão repentina de centenas de usuários de entorpecentes na região conhecida como cracolândia.

Como num passe de mágica, a concentração diuturna de traficantes e dependentes químicos no feirão de drogas a céu aberto desapareceu de maneira pacífica —e não após midiáticas operações policiais, como é comum há décadas.

Os usuários se espalharam por outras vias da capital. Ao menos um terço deles —cerca de 200 pessoas— migrou para a praça Princesa Isabel, a poucos metros dali.

O espaço já era ocupado por famílias sem teto, que agora vivem sob um clima de tensão. O tráfico parece estar se adaptando: na terça-feira (22) havia cerca de 50 tendas estrategicamente posicionadas longe dos olhos da polícia.

Os motivos da mudança abrupta não estão exatamente claros. Segundo a Polícia Civil, a ordem partiu da própria facção criminosa que detém o monopólio do crack.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirma que não houve nenhum tipo de acordo com o crime organizado. Para o secretário-executivo de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, o esvaziamento se deu após 92 detenções realizadas desde junho do ano passado.

"As prisões ocorreram em todos os níveis do tráfico. Ficou mais difícil chegar droga à cracolândia, e os preços subiram", avalia.

A operação Caronte, como foi batizada, também deflagrou uma série de despejos e emparedamentos de hotéis. Combinada a obras de recapeamento nas ruas, a ação teria sufocado o chamado "fluxo".

O jogo de gato e rato entre polícia e traficantes vem desde os anos 1990, quando a funesta aglomeração começou a se formar. Em 2017, após ostensiva operação policial, o então prefeito João Doria (PSDB) chegou a decretar o fim da cracolândia. À época, contudo, o tráfico também se deslocou à praça Princesa Isabel. Tempos depois, acabou retomando o espaço habitual.

Neste momento é impossível saber se o fluxo adotará a praça em definitivo ou se mais uma vez se reagrupará nas ruas próximas.

O que parece certo é que, no longo prazo, ações administrativas e de repressão são mais efetivas se conectadas a políticas preventivas, sociais e de tratamento de dependentes. Não há passes de mágica na árdua luta contra o vício.

editoriais@grupofolha.com.br

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