Em decisão esperada, o banco central americano elevou sua taxa de juros de zero para 0,25% ao ano, o primeiro passo do que deve ser um longo caminho para fazer a inflação retornar à meta de 2% anuais.
O Fed indicou que fará novos aumentos em sequência, que poderão levar os juros a 3% até 2023. Tal patamar já seria considerado suficiente para contrair a economia, segundo as estimativas da autoridade monetária dos EUA.
Em outras palavras, cresce o risco de uma recessão, que certamente se alastraria mundialmente.
Durante muito tempo a inflação não foi problema para os países ocidentais, que nas últimas décadas se depararam com o problema oposto. O quadro mudou com a pandemia e a resposta adotada pelos governos, na forma de fortes estímulos monetários e fiscais.
A retomada econômica foi forte e o mercado de trabalho respondeu rapidamente, impulsionando salários e preços. Não se pode descartar um processo de inércia inflacionária, muito conhecido no Brasil.
A inflação nos Estados Unidos fechou o ano passado em 7,8%, o maior patamar em três décadas. É esperada uma acomodação neste ano com a normalização das cadeias produtivas perturbadas pela crise sanitária, mas novos fatores podem alterar essa trajetória.
A guerra na Ucrânia pressionou os preços das matérias-primas, e o novo surto de Covid-19 na China já provoca paralisações em importantes centros produtivos. A inflação pode demorar a ser debelada.
No Brasil a ameaça também aumentou. Desde o início dos combates na Europa, houve novo salto nas expectativas para a inflação deste ano, de 5,5% para 6,5%, muito acima da meta de 3,5%.
Nesse quadro, talvez seja adiado o fim do ciclo de aumento da taxa básica, que o Banco Central elevou novamente para 11,75% nesta semana. São prováveis pelo menos mais uma alta de 1 ponto percentual na reunião de maio e, ao menos por ora, algum movimento adicional mais adiante.
O arrocho deve ter impacto crescente sobre a economia, que já enfrenta vários obstáculos. Um mau prognóstico, por exemplo, foi a queda de 0,99% no IBC-br, índice de atividade divulgado pelo BC.
Permanecem, além disso, os riscos para as contas públicas. Preocupado com as eleições, o governo Jair Bolsonaro (PL) continua a pressionar a Petrobras e a aventar subsídios e cortes de impostos sobre os combustíveis, entre outras medidas de cunho populista.
O momento é delicado e demanda uma responsabilidade que a esta altura parece abandonada. Qualquer iniciativa que eleve a incerteza e pressione a inflação poderá trazer ainda mais perdas para a renda e o emprego no país.
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