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MEC paralelo

Também na Educação Bolsonaro usa operadores informais de interesses opacos

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Educação, Milton Ribeiro - Pedro Ladeira - 22.out.20/Folhapress

A notícia de que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, mantém um esquema informal para intermediação de pleitos, liderado por dois pastores evangélicos sem vínculos funcionais com a pasta, é mais uma evidência da estratégia adotada por Jair Bolsonaro de operar em áreas cruciais da administração com estruturas paralelas.

Em conversa gravada obtida pela Folha, Ribeiro afirma que os pedidos negociados pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura são prioritários para o governo.

Em reunião com gestores municipais interessados em recursos, o ministro diz que o atendimento às proposições de um dos religiosos foi uma determinação do próprio Jair Bolsonaro (PL). "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar", relata o titular do MEC, também ele pastor.

Como já havia noticiado o jornal O Estado de S. Paulo, há relatos de que os pastores agenciam demandas por verbas em Brasília, em particular do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Viajam em aviões da FAB, participam de agendas oficiais e atuam em diversas áreas do país, notadamente na região Norte.

Casos de grupos mantidos à sombra por Bolsonaro para participar de políticas governamentais não são novidade. A Polícia Federal já apontou a existência, na área de comunicação, do que ficou conhecido como gabinete do ódio —milícia digital que atua para disseminar fake news, combater adversários do governo e mobilizar radicais bolsonaristas nas redes sociais.

Não é segredo que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, é personagem central nessa organização, investigada pelo Supremo Tribunal Federal em inquérito aberto por determinação do ministro Alexandre de Moraes.

Na mesma linha, durante as apurações da CPI da Covid, ficou comprovada a existência de uma equipe clandestina, integrada por médicos com tendências negacionistas, para municiar o presidente em sua estratégia de alardear tratamento precoce para a doença e rejeitar a vacinação em massa.

A essas estruturas fantasmas na Saúde e na comunicação junta-se agora o gabinete do ministro da Educação. Trata-se de um método espúrio, opaco e, como se vê, desastroso de governar. É preciso que os fatos ora revelados sejam apurados e que se apliquem as medidas legais cabíveis para coibi-los.

editoriais@grupofolha.com.br

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