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Marco Feliciano

O gênio estratégico de Bolsonaro

No concerto das nações não existem ideologias, mas sim interesses objetivos

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Marco Feliciano

Deputado federal (PL-SP), é vice-líder do governo no Congresso e vice-presidente da Frente Evangélica

Em meio à confusão instaurada no xadrez da geopolítica mundial pela invasão russa na Ucrânia, o assunto da hora na imprensa tupiniquim não é se estamos à beira da 3ª Guerra Mundial, mas sim espinafrar o presidente da República pelo seu posicionamento ante à crise.

Nessa senda de criteriosa desinformação, seria cômico —se não fosse trágico— ver parte da imprensa nacional transformando o nobre ofício de informar em mero ato de torcida, até mesmo divisando a insana possibilidade de o comediante vencer uma guerra com devaneios no YouTube.

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o líder russo, Vladimir Putin, em visita à Rússia - Alan Santos - 16.fev.22/PR

Ora, o mundo real não é assim. O jogo é bruto, e guerra se vence com armas, as quais de resto sobram a Vladimir Putin e faltam a Volodimir Zelenski. No concerto das nações inexistem mocinhos ou bandidos, tampouco ideologias, mas tão somente os interesses objetivos, mediatos e imediatos, dos Estados que as corporificam. Logo, fica de todo óbvio que devemos analisar as condutas de nosso presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio a essa grave crise levando em conta os interesses, muitas vezes inconfessáveis, das nações nela envolvidas e, principalmente, os interesses brasileiros.

Ou será que devemos ignorar que o atual conflito beneficia Joe Biden? Afinal, desde o pós-guerra é praxe presidentes americanos com baixa popularidade como ele contratarem conflitos externos para aumentarem seus índices de aprovação. Com a maior inflação dos últimos 40 anos corroendo o poder de compra do eleitor e às portas das eleições legislativas de meio de mandato —onde estarão em jogo a maioria democrata na Câmara e no Senado e, portanto, também uma possível volta de Donald Trump à cena política—, bem certo é que posar de líder do mundo livre cai como uma luva ao mandatário ianque.

E a estabilidade da atual ordem mundial? Essa, de per si, beneficia principalmente a China, potência que se agiganta pela economia, não pelas armas. De fato, o dragão há muito acordou e tem índices de produtividade até 11 vezes maiores que americanos e europeus. Ou seja, os chineses estão engolindo quem antes era hegemônico.

Assim, é de se perguntar se não seria de interesse das democracias liberais do Ocidente um conflito que, mesmo indiretamente, as antagonize com os regimes fechados orientais... Enfim, seria levar uma batalha já perdida na economia para um campo em que elas ainda dominam: o bélico.

Como se vê, menos importa a ponta do iceberg do que aquilo que está abaixo da linha d’água e que, por óbvios motivos, não é comentado pela mídia mainstream. Posto tudo isso, comemoro o gênio estratégico do presidente Bolsonaro: se de um lado o mesmo dá sinais de que, pessoalmente, se alinha aos argumentos da Rússia, de outro nossos representantes nos organismos multilaterais se engajam aos clamores ocidentais. Isso nos valoriza simultaneamente diante de americanos (que não podem perder o Brasil como zona de influência), chineses (nosso maior parceiro comercial) e russos (de quem o motor da economia brasileira, o agronegócio, é dependente de insumos). Uma no cravo, outra na ferradura. "Talquei"?

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