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O que a Folha pensa inflação

Pessimismo em alta

Datafolha mostra piora da percepção sobre economia; cenário está em evolução

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Fila para o pagamento do Auxílio Brasil, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 17.nov.21/Folhapress

A nefasta combinação de inflação e desemprego elevados impulsiona piora sensível da percepção do eleitorado sobre as condições da economia brasileira, como sugere a pesquisa Datafolha realizada nos dias 22 e 23 de março.

Os que esperam agravamento geral da situação somam 40% dos entrevistados no país, o dobro exato dos 20% que declaravam expectativa pessimista em dezembro. Para 74%, a alta dos preços vai aumentar, enquanto 50% preveem o mesmo para a taxa de desocupação.

É plausível que o encarecimento brusco dos combustíveis no início deste mês tenha tido influência considerável na deterioração dos humores da opinião pública. Há mais a listar, entretanto.

O perfil da inflação nos últimos meses, com grande peso de produtos cujo consumo não pode ser significativamente reduzido, é especialmente cruel com os mais pobres. São 24% os que relatam que a quantidade de comida em casa é insuficiente para a família —parcela similar às apuradas em maio (25%) e dezembro (26%) de 2021.

Note-se que de lá para cá foi instituído o Auxílio Brasil, versão ampliada do Bolsa Família com a qual o presidente Jair Bolsonaro (PL) procurou ampliar suas chances de reeleição. O Datafolha apurou que 23% dos brasileiros vivem em domicílios atendidos pelo programa, mas que 68% dos beneficiários consideram os valores insuficientes.

Todas as percepções negativas têm sua razão de ser, dadas as frustrações com a retomada da economia do país depois de superado o pior do impacto da pandemia. Mas, se nenhum especialista espera um desempenho brilhante neste ano, restam fatores que podem alterar o quadro e as expectativas.

Analistas projetam uma redução da inflação nos próximos meses, mas, mesmo que tal prognóstico se confirme, o IPCA deve registrar variação de ao menos 6% neste ano —muito acima da meta fixada pelo Banco Central, de 3,5%. A instituição já indicou que deve subir a taxa básica de juros dos atuais 11,75% para 12,75% anuais.

Mesmo com o arrocho monetário, contudo, a atividade econômica pode se beneficiar do aumento da demanda em serviços com a melhora da situação sanitária. Há também a valorização dos produtos primários exportados pelo país, acentuada pela guerra na Ucrânia, que favorece a moeda nacional.

Outro fator é o rápido aumento da ocupação nos últimos meses, que já reduziu o desemprego ao patamar anterior à pandemia. Nesse cenário, pode haver algum incremento de renda adiante.

Tudo somado, não é implausível que a economia mostre alguma melhora de curto prazo mais à frente —sempre a depender, claro, de o governo não cometer novos erros.

editoriais@grupofolha.com.br

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