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Preços de guerra

Agressão à Ucrânia eleva risco de decisão temerária sobre combustível no Brasil

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Preços de combustíveis em Frankfurt, na Alemanha - Armando Babani/Xinhua

O principal impacto econômico da guerra na Ucrânia para o mundo até o momento é o salto nos preços das matérias-primas, que vai além da energia e já contamina produtos agrícolas e insumos industriais.

Com a cotação do petróleo em quase US$ 115, o gás batendo recordes na Europa e soja, trigo e milho nos maiores patamares dos últimos anos, o custo de produção e transporte dispara e aumenta o risco de uma recaída recessiva.

No Brasil, o quadro inflacionário também se deteriora. As expectativas para a variação neste ano do principal índice, o IPCA, subiram de 5% para 5,6% em poucas semanas, muito além da meta do Banco Central, fixada em 3,5%.

O quadro não era simples antes, na medida em que os mecanismos de indexação do choque de preços ocasionado pela pandemia já exigiam um aumento significativo dos juros, que devem chegar a 12,5% anuais segundo as projeções.

O cenário mais otimista, viável há algumas semanas, era o de acomodação das pressões com a normalização das cadeias de fornecimento globais que se seguiria ao arrefecimento da emergência sanitária.

Com a renovada alta das matérias-primas, tal quadro deixou de ser realista. O mais provável agora é uma nova onda de repasses, que deve prolongar o prazo de convergência para as metas de inflação e, com isso, levar a juros mais elevados. As chances de retomada da atividade ficam ainda menores.

Nesse contexto, e com a arrecadação de impostos nas alturas, crescem as demandas por medidas compensatórias do governo. A busca de Jair Bolsonaro (PL) pela reeleição pode levar a más decisões e novos abalos nas contas públicas.

O tema mais urgente é o do preço dos combustíveis, que terá atenção iminente do Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve colocar dois projetos em votação.

O primeiro, que enfrenta resistência de governadores, lida com a estabilização do ICMS cobrado pelos estados; o outro, que seria danoso, cria um fundo com recursos públicos para estabilizar os custos para o consumidor na bomba e pode abrir espaço para interferência na política de preços da Petrobras.

Também se cogitam eliminar impostos federais sobre a gasolina e o diesel —algo que poderia custar R$ 50 bilhões anuais.

É preciso buscar soluções que minimizem os impactos para a população na emergência atual, mas sem voluntarismo que danifique ainda mais o depauperado Orçamento federal ou resulte em retrocessos na gestão profissional da empresa estatal do setor.

editoriais@grupofolha.com.br

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