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Retrocesso vacinal

Queda na cobertura e negacionismo abrem flanco para decadência da imunização

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Criança é vacinada no Rio - Tércio Teixeira/Folhapress

Todos os pais e o país todo têm por que alarmarem-se com a notícia de que a vacinação está no nível mais baixo em três décadas. Fica assim ameaçado pelo próprio sucesso um dos principais fatores de redução na mortalidade infantil do Brasil.

Em 1990, a taxa era de 47 mortes até um ano de idade por mil nascidos vivos, cifra que recuou para 13/1.000 no presente. Parece de todo factível alcançar a meta de reduzi-la a 5/1.000 até 2030.

Não se seguir o retrocesso no Programa Nacional de Imunizações, que começou antes do governo Jair Bolsonaro (PL). A vacina pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e bactéria Haemophilus influenza B), por exemplo, tinha cobertura de 96% em 2013, caiu a 84% em 2017 e a 68% em 2021.

A tríplice viral, que inclui sarampo, teve evolução semelhante: 107%, 86% e 71%, nos mesmos anos. Não espanta que, em 2018, Roraima tenha vivido surto da doença. O país arrisca presenciar até um retorno da poliomielite (100%, 85% e 67%, respectivamente).

O paradoxo decorre do desempenho exemplar do programa. Com a prevenção eficaz de moléstias graves, a população deixa de percebê-las como risco palpável e perde forte incentivo para imunização.

Apesar do quadro, a verba para a publicidade oficial das campanhas vem caindo desde 2017, quando chegou a R$ 97 milhões. Foram R$ 86 milhões em 2018, depois R$ 67 milhões (2019), R$ 69 milhões (2020) e R$ 33 milhões (2021).

Ainda que restrições orçamentárias tenham contribuído para a involução, é patente que Bolsonaro negligencia sobremaneira essa forma de prevenção. Em seu governo, política e ideologia têm prioridade sobre saúde pública.

Primeiro prevaleceu um virtual veto à imunização de meninas e meninos contra o HPV. Conservadores religiosos propagam a balela de que tal providência favoreceria atividade sexual precoce.

Depois o Planalto sabotou vacinação contra a Covid para fustigar a iniciativa Coronavac do governador João Doria (PSDB-SP).

Mais recentemente, surgiu a absurda campanha desfavorável à vacinação de crianças contra o coronavírus. Até a uma hedionda associação do imunizante com a Aids o presidente recorreu.

O desfecho óbvio das investidas negacionistas é semear mais dúvidas em mães e pais. Bolsonaro não é o único responsável pelo retrocesso, porém se destaca hoje como solapador-mor da imunização.

editoriais@grupofolha.com.br

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