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Emanuel Pessoa

Sanções à Rússia, inflação e a estratégia chinesa

Antes impensável, embargo afeta múltiplas frentes

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Emanuel Pessoa

Advogado especializado em direito econômico internacional, é mestre em direito (Universidade Federal do Ceará e Harvard Law School) e doutor em direito econômico (USP)

O barril de petróleo do tipo Brent chegou a ser negociado a US$ 139 pelo temor de embargo ao petróleo russo. Já o gás natural atingiu mais de 330 euros por megawatt- hora (MWh), um aumento superior a 70% em pleno inverno europeu.

Essa subida de preços foi uma antecipação do mercado ao que parecia antes impensável: o embargo ao setor exportador de energia russo, já que uma sanção desse tipo prejudica as já superendividadas economias das potências ocidentais, além de atrapalhar a retomada econômica após as longas quarentenas decorrentes da Covid-19.

Contudo, sem esse embargo, a Rússia não se vê privada dos recursos que necessita para custear a guerra contra a Ucrânia. Na verdade, a disparada dos preços do petróleo e do gás natural beneficiam o país, que, com o aumento dos preços, compensa, ainda que parcialmente, parte das perdas que sofre com outras medidas de coação.

As sanções atuais prejudicam mais o povo que o próprio Estado russo, mas o embargo sobre o petróleo e o gás afeta principalmente o governo, que se vê privado do fluxo de moedas estrangeiras, forçando a utilização das reservas internacionais que não foram bloqueadas e perdendo o apoio de grande parte da oligarquia local, que lucra com a exportação de energia.

A medida era considerada altamente improvável, já que reduziria o crescimento econômico dos Estados Unidos, além de aumentar a inflação, que já erode a popularidade do presidente Joe Biden em pleno ano de eleição legislativa.

Isso, provavelmente, explica porque a China ainda não tomou medidas concretas em relação à Taiwan, aproveitando a inação militar ocidental: o gigante asiático quer ver o quanto o Ocidente está disposto a sacrificar suas economias.

A economia chinesa depende fortemente de exportações, sendo o principal comprador os Estados Unidos. Se a China percebe que há disposição da classe política e da sociedade para tolerar uma inflação maior para garantir os compromissos norte-americanos com seus aliados, uma incursão militar em Taiwan pode ser adiada. Um embargo a produtos chineses também geraria forte reação inflacionária nos países ocidentais, que dependem do país para suprir a maior parte dos bens de consumo que adquirem.

Na Europa, a alta do gás também deve se refletir na perda de poder de compra da população por conta da inflação, assim como no aumento de custos da produção industrial —principalmente na Alemanha, que conta com a Rússia para prover mais de 50% do gás natural que utiliza.

No curto prazo, isso deverá levar a Alemanha a rever a sua política de fechamento de usinas nucleares e modificar o ritmo de diminuição da utilização de combustíveis fósseis. O contrário seria impor preços mais altos aos consumidores europeus e arriscar uma perda de mercado para os produtos industrializados alemães.

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