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Maria Carolina Cristianini

As crianças e a guerra na Ucrânia

Despertar o interesse no jornalismo profissional é antídoto contra fake news

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Maria Carolina Cristianini

Editora-chefe do jornal Joca, para crianças e adolescentes, e Jornalista Amiga da Criança

Há 47 dias teve início o fato que, desde então, domina o noticiário ao redor do planeta: a guerra na Ucrânia. Apesar da distância geográfica em relação ao Brasil, são muitas as preocupações que o conflito traz para o dia a dia de todos. E, quando falamos em todos, não podemos nos esquecer das crianças.

Vivemos conectados de tal maneira que não há como evitar que todo tipo de notícia chegue às pessoas de todas as idades. Diante dessa realidade, não há nada melhor a fazer do que permitir que as crianças, como cidadãs que já são, tenham garantido o seu direito de estar em contato com informação de qualidade sobre o tema —e em formato adequado para a sua faixa etária.

Foi assim que a equipe de jornalismo que coordeno, em um jornal de atualidades feito para crianças e adolescentes, partiu para a reportagem de uma de nossas últimas edições: perguntar, diretamente para as crianças, que dúvidas têm sobre a guerra. Afinal, o que elas querem saber sobre o conflito que atualmente envolve Rússia e Ucrânia? O que compreenderam e o que ainda não entenderam sobre a questão?

A guerra pode se espalhar? Pode começar a 3ª Guerra Mundial? Por que a Ucrânia quer entrar para a Otan? Por que a Rússia não deixa a Ucrânia entrar para a Otan? Há chance de o Brasil entrar na guerra? Onde as crianças refugiadas da Ucrânia estão? Quando a guerra acabar, Vladimir Putin vai ser preso por cometer crimes de guerra?

Essas foram algumas das perguntas que recebemos, de crianças das mais variadas regiões do Brasil. As questões demonstram que a informação sobre o conflito, sim, chegou até elas. Até porque são leitoras de um jornal infantojuvenil que já vinha fazendo a cobertura da tensão entre Rússia e Ucrânia —e havia explicado a esses jovens, por exemplo, o que é a Otan (aliança militar ocidental comandada pelos EUA).

E, além disso, comprova que as crianças têm vontade de saber mais sobre o que acontece a tantos quilômetros de distância de nós —e até o que pode surgir como consequência da guerra. A isso podemos dar o nome de envolvimento e pertencimento. A partir do momento em que os leitores do jornal infantojuvenil tiveram acesso a informações sobre a tensão na Ucrânia antes de a guerra começar, eles já começaram a se envolver com o assunto, que é de interesse mundial —e, portanto, também de interesse deles.

Esse envolvimento inicial vai além: quando as crianças são convidadas a participar ativamente do tema, pensando em perguntas que gostariam de fazer sobre a guerra, elas se tornam pertencentes ao mundo das notícias e da informação. Trata-se de algo que desperta nesses jovens uma atração pelo jornalismo profissional. E não há nada melhor do que o envolvimento e pertencimento para combater a desinformação —as famosas fake news.

Ter dúvidas sobre um assunto da atualidade respondidas em um jornal, por meio de repórteres que procuraram especialistas no tema para solucionar suas perguntas, gera um movimento cidadão nas crianças. São jovens que passam a estar em sintonia com a realidade, cientes de que o jornalismo profissional os ajudará a entender o mundo. Sempre a partir de uma atitude cidadã ao participar, fazer perguntas, pertencer, raciocinar e, acima de tudo, desenvolver o pensamento crítico perante o mundo.

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