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Correndo atrás

Com maior inflação em 4 décadas, banco central dos EUA pode produzir recessão

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Carnes vendidas em São Francisco, na Califórnia (EUA) - Justin Sullivan/AFP

Diante da maior pressão inflacionária em décadas, o banco central americano, o Fed, terá a tarefa de retomar as rédeas da política monetária sem causar uma recessão, que poderia se tornar global.

É um desafio e tanto, quando se leva em conta o ponto de partida. A alta de preços ao consumidor nos 12 meses encerrados em março ficou em 8,5%, a maior desde 1981.

Até meados do ano passado dava-se crédito à ideia de que parte das pressões seria transitória, ocasionada por problemas de oferta em vários setores durante a pandemia.

A expectativa de reversão, contudo, foi frustrada; logo ficou claro que as pressões eram mais persistentes. Mesmo expurgando os preços de energia e alimentos, a inflação americana está em 6,5% e abarca grande variedade de itens. Na Europa esse corte mostra taxa bem menor, por volta de 3%.

A diferença decorre do mercado de trabalho muito mais aquecido nos Estados Unidos. O desemprego em março ficou em 3,6%, e os salários sobem no ritmo de 5,6% ao ano, o que é incompatível com a meta de inflação do Fed (2%).

Se duradoura, a combinação de preços e salários em alta pode reforçar um processo de inércia, fenômeno comum no Brasil. Quando isso ocorre, fazer a inflação retornar à meta exige aperto mais agudo na política monetária e maior perda de atividade econômica.

Por fim, há o risco de uma disparada nas expectativas de consumidores e empresas a respeito da evolução dos índices.

Em retrospecto, fica claro que os estímulos monetários e fiscais adotados nos EUA foram excessivos. Cerca de 25% do Produto Interno Bruto em gastos públicos, boa parte em auxílios diretos à população, e a avalanche de dinheiro criada pelo Fed resultaram num choque de demanda muito além da capacidade produtiva do país.

Nesse quadro, a autoridade monetária reconheceu seu atraso e indicou juros mais altos e reversão mais rápida dos estímulos. A expectativa para a taxa básica no fim deste ano passou de 0,75% para 2,5% anuais. Até meados de 2023, seriam ao menos 3,25%.

A experiência sugere que uma contração rápida das condições financeiras deve ser bem-sucedida em conter a inflação, mas também que raramente isso ocorre sem uma recaída recessiva.

​editoriais@grupofolha.com.br

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