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De roubos e robôs

Além da tragédia na educação, MEC concentra escândalos no governo Bolsonaro

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Escola Municipal Almirante Benjamin Sodré, na zona rural de Canapi (AL), contemplada em um programa de robótica bancado pelo FNDE - Pedro Ladeira/Folhapress

É falácia flagrante a propaganda de que Jair Bolsonaro (PL) acabou com a roubalheira no governo, e o Ministério da Educação está aí para dar indícios seguidos disso. Computadores, pastores, ônibus, robótica —não faltam escândalos a sugerir que a corrupção passa longe da erradicação prometida.

Nunca se esclareceu, a começar, quem encomendou a licitação de 2019, primeiro ano de Bolsonaro, para a compra de computadores no valor de R$ 3 bilhões. Em boa hora abortada, vez que a uma única escola de 255 alunos seriam alocados 30 mil equipamentos.

No foco de suspeita estava o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao MEC. Sob o comando do centrão, o fundo volta à berlinda com a aquisição de centenas de kits de robótica para localidades alagoanas por R$ 26 milhões. O odor de negociata a emanar da transação é forte.

Antes de mais nada, o preço, tudo indica superfaturado. Os melhores similares no mercado não chegam a R$ 10 mil; o FNDE paga R$ 14 mil por unidade, conforme reportagem publicada pela Folha.

Em seguida vem o privilégio implícito a Alagoas. De R$ 39 milhões do fundo destinados em 2021 à rubrica equipamentos e mobiliário (na qual se enquadram os kits), R$ 31 milhões (79%) terminaram carreados ao estado nordestino.

Não há de ser coincidência desmotivada que Alagoas seja também origem do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), prócer do centrão que mercadeja as chamadas emendas do relator ao Orçamento. Não bastasse, a empresa contemplada, Megalic, pertence ao pai do vereador de Maceió João Catunda, aliado de Lira.

Este jornal visitou algumas escolas e constatou a precariedade usual da educação pública: paredes descascadas, banheiros sem água, salas de aula insuficientes para todas as séries —além de prédios inacabados por força de verbas do FNDE que não chegam. Faltam até computadores, sem os quais kits de robótica ficarão ociosos.

Apenas dois dias antes da provável fraude vir à tona o Tribunal de Contas da União havia suspendido licitação bilionária do MEC para adquirir 3.850 ônibus com aparente sobrepreço, caso revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Dez dias antes, cumpre recordar, o ministro Milton Ribeiro perdera o cargo por condicionar verbas à intermediação de pastores.

Em mais uma inverdade, o presidente alega ter identificado e suspendido falcatruas iminentes, quando em realidade as evitadas só o foram após apuração da imprensa. Fato incontestável: em seu governo o MEC capturado por ideólogos se tornou também antro de negócios nebulosos, todos patrocinando a tragédia educacional.

editoriais@grupofolha.com.br

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