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O que a Folha pensa Rússia

Globalização em xeque

Desaceleração do comércio expõe riscos oriundos da guerra e da nova geopolítica

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Contêineres no porto de Xangai, na China - Reuters

O agravamento das tensões geopolíticas já impõe custos para a economia mundial. De mais dramático, disparam os preços dos alimentos, devido a interrupções no fornecimento de insumos e ao encarecimento da energia e do transporte, com enorme dano social.

De forma mais ampla, a integração global também começa a ser afetada, conforme nova projeção da Organização Mundial do Comércio (OMC). A instituição revisou de 4,7% para 3% a expectativa de crescimento das transações neste ano. Há riscos de piora.

O mais óbvio deles é uma escalada da guerra na Ucrânia, capaz de levar a embargos ocidentais contra o petróleo e o gás da Rússia. Esta também pode limitar ainda mais a venda de produtos essenciais, como fertilizantes e metais industriais, além de impedir o escoamento de trigo ucraniano, que é especialmente importante para a África e o Oriente Médio.

O aumento da inflação, nesse contexto, resultaria em mais juros e, no limite, a uma recessão, que traria redução no volume de comércio. Tal possibilidade fica clara com a nova projeção da OMC para o Produto Interno Bruto mundial, que caiu de 4,1% para 2,8%.

Outro fator de incerteza é a política chinesa de combate à Covid-19. O gigante asiático ainda não abandonou a estratégia de tolerância zero, que vai se tornando mais onerosa diante da variante ômicron, altamente contagiosa.

As quarentenas em grandes cidades, centros produtivos fundamentais para numerosos setores, ameaçam provocar paralisia nas fábricas e na logística —um novo golpe na frágil trajetória de normalização dos últimos meses.

Recorde-se que a pandemia já havia suscitado questionamentos quanto à estratégia das multinacionais de espalhar seu fornecimento ao redor do mundo —o que ocorreu nas últimas décadas, durante o pico da integração global.

Tudo somado, há sem dúvida obstáculos para o que chamamos de globalização, ao menos nos moldes em que foi implantada.

A tendência de crescimento do comércio começou a ser enfraquecida com a crise financeira de 2008. A guerra tarifária entre Estados Unidos e China, iniciada pelo ex-presidente Donald Trump, reforçou o movimento. Desde então, os conflitos geopolíticos se tornaram ainda mais agudos.

Uma reorganização geral pode resultar de fatores como o maior foco das grandes potências em nacionalizar tecnologias e produção em setores sensíveis, bem como a menor disposição do setor privado em assumir riscos. Ganhos de eficiência podem ser sacrificados em prol da percepção de segurança, com impacto inflacionário.

A globalização trouxe benefícios econômicos e sociais, embora nem sempre bem distribuídos. O novo cenário exigirá a adaptação de todos —e pode significar oportunidades para países produtores de commodities como o Brasil.

editoriais@grupofolha.com.br

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