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Impulsos franceses

Vitória de Macron evita desastre democrático, mas força de extremos é eloquente

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Emmanuel Macron, presidente reeleito da França - Thomas Coex/AFP

Finda a eleição presidencial francesa, Emmanuel Macron confirmou o favoritismo das pesquisas mais recentes e sagrou-se o primeiro mandatário máximo do país a se reeleger desde que Jacques Chirac destroçou Jean-Marie Le Pen no segundo turno de 2002.

Há 20 anos, houve alívio, já que a mera presença do fascistoide Le Pen na disputa sugeria um terremoto. Chirac, um político de velha guarda impopular, venceu com 64,4 pontos percentuais de vantagem.

Nas duas eleições seguintes, forças tradicionais se alternaram, até que em 2017 Macron surgiu como uma espécie de outsider de dentro da elite, prometendo renovação. Seu governo, porém, viu a ascensão do apelo dos extremos.

Sua vitória sobre a filha de Le Pen, a mais comedida Marine, deve ser celebrada como um novo suspiro, embora em tom reservado.

No mesmo embate em 2017, a vantagem sobre os ultranacionalistas já havia caído pela metade em relação a 2002, para 32,2 pontos percentuais; agora, sofreu um encurtamento semelhante, para 16,7 pontos em favor do mandatário.

Em uma Europa sob os fumos da guerra na Ucrânia, ver alguém filiado ao clube em que milita Vladimir Putin ser derrotado nas urnas é sempre motivo de júbilo. Os desafios colocados à frente de Macron, no entanto, são enormes.

No primeiro turno, a ultradireita de Le Pen e Éric Zemmour amealhou 30,2% dos votos; o ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon ficou com quase 22%. Mais da metade do eleitorado apostou em radicais. Somados aos outros nomes menores, também contrários ao establishment, são mais de 61%.

O presidente parece ter entendido. Redirecionou sua campanha para o palco doméstico e dirigiu-se aos eleitores cativados por Le Pen —que modulou a virulência da sigla herdada do pai, ora renomeada, e se vendeu como conduíte das aspirações da população que perdeu sua voz.

A abordagem tecnocrática e distante de Macron não apela às classes média e trabalhadora dos "coletes amarelos", que pararam o país em 2018 e 2019 com demandas de inclusão social e econômica. Terá de trabalhar para garantir que os franceses não sigam o exemplo dos britânicos, que abandonaram o projeto europeu em 2016.

O desafio passa por enfrentar a maior inflação desde 1985, resultante de preços majorados pela guerra, e a formação de base sólida na eleição parlamentar de junho.

editoriais@grupofolha.com.br

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