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Inflação sem trégua

IPCA de março reduz confiança em melhora no ano; mundo teme medidas recessivas

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Fila por em posto de combustíveis em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

A inflação continua a desafiar qualquer prognóstico otimista. Nem mesmo a elevação de 2% para 11,75% anuais da taxa de juros do Banco Central em pouco mais de ano tem sido capaz de estancar o processo até o momento.

Soube-se nesta sexta-feira (8) que a variação do IPCA em março foi de 1,62%, o maior percentual para o mês em 28 anos e 0,3 ponto percentual acima das expectativas de analistas para o período. Em 12 meses, o índice acumula aumento de 11,3%, o que ainda configura uma aceleração em comparação ao fechamento de 2021 (10,06%).

No mês passado verificou-se um acúmulo de influências negativas, como a disparada dos preços dos combustíveis, resultante da guerra na Ucrânia, e o encarecimento da alimentação em casa, que teve alta de 3%. Neste grupo, os produtos in natura subiram 10,45% por causa de chuvas em alguns estados.

As pressões continuam a ser generalizadas, abarcando comida, bens duráveis, preços administrados, combustíveis e, em menor medida, a prestação de serviços.

A medida de núcleo da inflação, que retira itens mais voláteis e visa refletir a dinâmica mais permanente, ficou em 9,01% nos últimos 12 meses, também uma aceleração ante o final do ano passado.

Na prática, embora se mantenha a expectativa de que a variação do IPCA neste ano acabará por ser menor que a de 2021, a confiança nesse cenário diminuiu.

Continuam a surgir novos fatores de elevação. O mais óbvio é a guerra, que impulsiona o preço do petróleo e ameaça a produção agrícola pela escassez de fertilizantes. O agravamento da pandemia na China, além disso, traz o risco de novas interrupções no fluxo de comércio mundial, com impacto em várias cadeias de produção.

A esta altura, notícias com potencial positivo, como o corte das tarifas de energia em razão da melhora da situação hídrica, diluem-se como meros paliativos. Ainda não se detecta, por fim, efeito favorável da valorização do real nos preços de artigos importados.

Para o Banco Central, fica menos claro quando poderá ter fim a sequência de aumentos da taxa Selic. A indicação da autoridade monetária era a de mais um incremento de 1 ponto percentual, encerrando o ciclo com juros de 12,75% ao ano. Agora, já se coloca o risco de um aperto ainda maior.

Não há solução fácil. Se a escalada do IPCA no ano passado decorreu em grande medida de erros de gestão do governo Jair Bolsonaro, hoje o fenômeno tem amplitude global, evidente com a inflação acima dos 7% anuais nos Estados Unidos e na zona do euro.

Teme-se que os principais bancos centrais não consigam estancar o problema sem provocar recessão —uma tragédia para o mundo que se recupera da pandemia.

editoriais@grupofolha.com.br

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