Anitta não tardou a se posicionar contra a tentativa de censura do Lollapalooza, no mês passado. Do topo do Spotify global, ela fez troça da multa estabelecida pelo TSE por cada um que se manifestasse politicamente no festival —o valor era "menos uma bolsa" de grife para ela.

O comentário em defesa da liberdade de expressão tornou particularmente incômodo um bate-boca dela com o G1 nas redes dias depois.

O portal havia publicado uma nota repercutindo uma frase de Anitta à revista americana Nylon que, segundo a cantora, fora tirada de contexto —"no Brasil, todos querem se divertir e transar", apagada mais tarde pelo veículo.

Anitta tem um histórico de embates com o portal que data de ao menos 2018. À nota do G1 —que provocava ao repetir a frase da cantora e indagar ao público "o que você quer?"—, a cantora respondeu que não era de hoje eles publicavam "matérias com um fundinho de ‘hate’", ou ódio virtual, contra ela.

Dois pontos do comentário de Anitta saltam aos olhos. O primeiro, a associação entre uma nota que nada fez além de narrar um fato, incluindo a posição dela sobre ele, com uma suposta opinião negativa do portal sobre a cantora.

Outro, a transferência da lógica das redes, de perseguição e "hate", para a cobertura jornalística cultural. Anitta diz que "vai dar o fecho" no G1.

O embate acontece num contexto de crise da imprensa, vista como acessória na divulgação do trabalho artístico ante as redes sociais e baseada em um modelo de negócios que, ao prezar por cliques, acaba favorecendo temas e polêmicas que são fonte garantida de audiência.

Mas jornalismo e crítica especializada são uma coisa, fãs, outra. Textos que desviam da narrativa que Anitta criou para si mesma não são necessariamente "hate". Podem ser vistos como oportunidade de entrar em contato com outras visões sobre a própria obra, mas servem sobretudo ao debate público. É para isso, entre outros, que existe a liberdade de expressão que ela defendeu.