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Jacob Pinheiro Goldberg

A hora de temer e crer

Labirintite será curada através da coragem cívica da sociedade, que exige paz e justiça social

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Jacob Pinheiro Goldberg

Doutor em psicologia, advogado, assistente social e autor de "O Direito no Divã" (ed. Saraiva)

O vestibular da eleição do presidente da Republica neste ano se caminha para um impasse. Trata-se de uma crônica anunciada de uma crise cujos precedentes históricos sempre representaram rupturas constitucionais, com as trágicas consequências sociais que a história documenta.

Os dois candidatos que se apresentam como preferidos de vasta fatia do eleitorado cada vez mais radicalizam, simultaneamente, suas concepções de República, assim como excluem a hipótese da legitimidade do adversário.

No Congresso Brasileiro de Direito Constitucional, apresentei tese sobre a relação dos Poderes sob o ponto de vista psicológico, advogando que o fenômeno acompanha o processo politico nacional: "Não é de estranhar, por isso, que, hoje, grande parte dos conflitos entre o Legislativo e o Executivo se estabeleçam sobre a área comum das relações com a imprensa, que deve ter, além dos seus tradicionais papéis de informar e ensinar, o de testemunhar como catarse da sanidade psicológica do cidadão, desamparado diante do Estado-Leviatã. Mesmo porque urge assinalar a tautologia de que não pode existir democracia sem informação, e essa vai ficar na dependência da postura observadora do Legislativo na instância política do Estado e da imprensa, na rua. A alternativa é a síndrome do abandono para o indivíduo que, frustrado e receoso, acaba por desenvolver sua agressividade e violência".

A capilaridade, simultaneidade e instantaneidade da internet, bem como a liberdade de expressão, remetem os choques ao Judiciário, numa vulnerabilidade expositiva e demandante, inédita em nossos parâmetros legais.

Este quadro por si dramático no contexto da pandemia e agora da guerra entre Rússia e Ucrânia alimenta os sentimentos persecutórios que se definem nos campos ideológicos de esquerda e direita, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inaceitáveis para o reconhecimento do convívio civilizatório.

Urge uma saída espelhada na autoridade harmônica do "temor reverencial" que o sentimento religioso e a psicologia de massa reconhecem não como medo, mas como respeito. Os mesmos estão ausentes na falta de diálogo que Martin Buber defende essencial para a saúde do equilíbrio individual e comunitário.

Em capítulos recentes, no lamentável episódio ocorrido no 7 de Setembro e na missão humanitária para o Líbano o ex-presidente Michel Temer (MDB) encarnou neste papel sublimando o medo através do diálogo.

Nos últimos anos, nos momentos de crise, a casa de Temer tornou-se santuário de peregrinação de políticos de todos os vieses ideológicos.

Com esperança, a labirintite será curada através da coragem cívica da sociedade, que exige paz e justiça social.

Os mistagogos devem ceder espaço nas palavras de Bertolt Brecht: "Infeliz a nação que precisa de heróis".

TENDÊNCIAS / DEBATES
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