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Arnaldo Lichtenstein

Cigarro eletrônico também é veneno

No Dia Mundial sem Tabaco, vale o alerta para proteger nossos jovens

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Arnaldo Lichtenstein

Clínico geral, é diretor técnico do serviço de clínica geral do Hospital das Clínicas de São Paulo e representante do American College of Physicians no Brasil

Nesta terça-feira (31) celebra-se o Dia Mundial Sem Tabaco. O tabaco é uma pandemia e maior responsável por mortes e adoecimento evitáveis no mundo. Anualmente são 8 milhões de vítimas por ano.

O tabaco (ou "petyn", como era conhecido antes de Colombo) foi, junto com a sífilis, a retribuição dos habitantes originais americanos aos exterminadores europeus. Os nativos foram dizimados rapidamente pelos europeus (pela varíola e por armas de fogo), enquanto que estes ainda sofrem lentamente com o cigarro.

Essa droga impregnou artistas do cinema norte-americano e até o nosso corpo. Sim, a região na continuidade do nosso polegar é chamada de tabaqueira anatômica, pois ali se colocava o rapé para ser aspirado. Ele também impregnou o brasão da República Federativa do Brasil.

O tabaco causa 1 em cada 10 mortes no mundo. Metade dos tabagistas morrerá devido ao cigarro. No Brasil, são 200 mil mortes por ano. Fumar encurta 11 anos na vida da mulher e 12 anos na do homem.

Estima-se que haja 1,3 bilhão de tabagistas no mundo, 80% em países em desenvolvimento, e 2 bilhões de fumantes passivos, dos quais 700 milhões são crianças.

Esta poderosa droga que chega ao cérebro em sete segundos após a tragada de um cigarro e é altamente viciante. São mais de 4.000 substâncias identificadas num cigarro, sendo 60 delas carcinogênicas.

Quanto mais cedo alguém deixa de fumar, mais tempo vive. Quem para de fumar entre 25 e 34 anos tem sobrevida igual a quem nunca fumou (ganho de 10 anos). Quem para entre 35 e 44 anos ganha 9 anos. Quem para entre 45 e 54 anos ganha 6. E, por fim, quem para entre 55 e 64 anos vive mais 4.

O Brasil deu exemplo ao mundo: éramos 34,8% da população que fumava em 1989, caindo para 10,1% em 2018.

Isso gerou uma reação da indústria do tabaco: o cigarro eletrônico. Com o pretexto de ser uma ferramenta para cessar o vício, ou minimizar danos, difundiu-se entre os jovens, introduzindo-os no hábito. Lembro que dois terços dos fumantes de cigarro industrializado adquiriram a dependência antes dos 20 anos.

O cigarro eletrônico não tem alcatrão, que é cancerígeno na combustão, mas pela vaporização pode ocorrer a Lesão Pulmonar Associada ao uso de Produtos com Cigarro Eletrônico ou Vaping (Evali), altamente mortal. Não há seguimento de longo prazo das pobres vítimas dessa ferramenta, pois seu uso é recente. Mas, em termos de nicotina, um cartuxo equivale de 5 a 30 cigarros, dependendo se gerar de 10 a 250 jatos do veneno.

E não se engane: numa roda de narguilé, o consumo total equivale a 100 cigarros.

Vamos fazer valer este dia de alerta e proteger nossos jovens.

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