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Marisol Argueta de Barillas

Contexto global é teste para líderes da América Latina

Resposta a desafios pode ser uma melhor cooperação e integração regional

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Marisol Argueta de Barillas

Chefe da Agenda Regional da América Latina; membro do Comitê Executivo do Fórum Econômico Mundial

* As projeções de crescimento mais recentes para a América Latina em 2022 foram ajustadas para baixo pelas entidades financeiras, estimando-se entre 1,8% e 2,4%;

* O choque inflacionário que já se reflete no aumento dos preços da energia e dos alimentos exige medidas imediatas para mitigar os efeitos socioeconômicos previsíveis e evitar uma nova ameaça à segurança alimentar;

* Durante Davos 2022, espera-se a participação de importantes líderes empresariais, governos, organizações internacionais, sociedade civil e jovens latino-americanos para enfrentar os principais desafios da região;

Quando o mundo começou a se recuperar dos efeitos da Covid-19, teve que enfrentar as graves consequências da agressão militar contra a Ucrânia, e a região latino-americana não se livra da convulsão que caracteriza esse contexto global ainda mais complexo e desafiador. As projeções de crescimento mais recentes para a região em 2022 foram ajustadas para baixo pelas entidades financeiras, estimando-se entre 1,8% e 2,4%, em média. Embora as características individuais das economias regionais sejam reconhecidas, todas elas estão inevitavelmente expostas a fatores externos semelhantes que continuam a agravar os problemas de inflação, aumentar a volatilidade e aumentar os custos financeiros.

Marisol Argueta de Barillas Chefe da Agenda Regional da América Latina; membro do Comitê Executivo do Fórum Econômico Mundial
A chefe da Agenda Regional da América Latina, Marisol Argueta de Barillas - Divulgação

O avanço dos preços dos hidrocarbonetos, matérias-primas, principalmente produtos agrícolas e fertilizantes, como consequência do impacto na produção e comércio com os países envolvidos no conflito armado, além das projeções de menor crescimento dos principais parceiros comerciais da região —Estados Unidos, China e União Europeia— afetam a demanda externa. Essas condições emergentes, juntamente com a vulnerabilidade já exposta das cadeias de suprimentos globais e os altos preços de transporte, geram maior complexidade e incerteza.

Além das medidas de política monetária mais restritivas, o choque inflacionário já refletido no aumento dos preços da energia e dos alimentos exige medidas imediatas para mitigar os efeitos socioeconômicos previsíveis e evitar uma nova ameaça à segurança alimentar, o que afetaria sobretudo os grupos mais vulneráveis e poderia desencadear novas tensões sociais. Além disso, vale salientar que, embora as taxas de vacinação tenham aumentado significativamente, não se deve desviar a atenção das contínuas consequências da pandemia, da mesma forma que também é necessário manter, em paralelo, uma visão que permita abordar as persistentes deficiências estruturais que atormentam a América Latina há décadas.

Durante a tão esperada reunião anual do Fórum Econômico Mundial, que acontece presencialmente neste mês, contaremos com a participação de importantes lideranças empresariais, governos, organizações internacionais, sociedade civil e notáveis jovens latino-americanos para discutir os principais desafios que nossa região enfrenta com vista a convergir para respostas coordenadas de enfrentamento aos múltiplos desafios que enfrentamos, otimizando o vasto capital natural e os valiosos recursos humanos da nossa região.

A transição energética baseada em segurança, acessibilidade e diversificação, ampliando o uso de fontes renováveis com grande potencial na região; a maior eficiência das economias por meio da digitalização e inclusão digital, que está atraindo significativos fluxos de capital; o reconhecimento da força criativa e inovadora da região e a promoção do empreendedorismo; comércio e investimento; eficiência na agricultura e segurança alimentar; além da sustentabilidade da Amazônia, soluções inovadoras para os desafios ambientais e o desenvolvimento da bioeconomia são alguns dos temas da nossa agenda regional. Essa agenda está enquadrada em um contexto geopolítico em mudança e em circunstâncias regionais caracterizadas pela incerteza causada por outro ciclo eleitoral intenso, a preocupação de muitos com a deterioração da democracia em alguns países da região e tensões sociais recorrentes.

Diante de uma realidade global volátil e iminentemente complicada e com margens fiscais reduzidas, é necessária uma colaboração público-privada mais vigorosa, para a qual também abordaremos o conceito de Capitalismo das Partes Interessadas ("stakeholder capitalism") e sua aplicação prática no mundo corporativo regional mediante a introdução de um marco de métricas ambientais, sociais e de governança (ESG) alinhadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para que as contribuições do setor privado nessas áreas de interesse comum da sociedade sejam valorizadas de acordo com os novos padrões internacionais.

Além da disponibilidade de recursos financeiros internacionais e ajustes na política monetária, serão necessárias políticas oportunas de mitigação dos riscos expostos e estratégias extraordinárias de proteção aos grupos mais vulneráveis. As respostas exigidas por esse contexto complexo não podem se basear na retórica populista —é necessário um diálogo político que tempere a polarização e as divisões ideológicas e permita um amplo consenso.

A qualidade da liderança latino-americana e a resiliência de nossa região são postas à prova neste contexto crítico e oferecem uma nova oportunidade para restaurar a confiança, promover uma melhor cooperação localmente e uma maior integração regional. A ação coletiva é fundamental para responder de forma mais eficaz aos desafios emergentes e impulsionar a recuperação sem descuidar da visão de longo prazo que permite avançar rumo ao desenvolvimento sustentável e inclusivo na região latino-americana.

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