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O que a Folha pensa Auxílio Brasil

Fome de crescimento

Sem expansão econômica e com inflação em alta, ação social tem eficácia reduzida

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Pessoas buscam restos de comida no Mercado Municipal de São Paulo - Danilo Verpa - 14.out.21/Folhapress

Miséria e fome são conceitos associados, embora as medidas de uma e outra variem. Define-se comumente a miséria como a falta da renda necessária para um consumo mínimo de nutrientes, o que envolve cálculos complexos. De modo mais simples, pode-se detectar a fome apenas perguntando a quem a vivencia ou a teme.

Com base em questionários globais, a ONU detectou o aumento da insegurança alimentar no mundo e no Brasil. Segundo o mais recente relatório da entidade, o percentual de pessoas que declaram ter tido dificuldade para comprar comida nos últimos 12 meses subiu no planeta de 23%, no período 2014-16, para 27,6% em 2018-20.

Na mesma comparação, a taxa brasileira passou de 18,3% a 23,5%. Se levada em conta apenas a insegurança considerada severa, as taxas mais recentes no documento são de 10,5% no mundo e 3,5% aqui.

O impacto devastador da pandemia de Covid-19 foi a explicação mais óbvia e geral para a piora no ano retrasado. Mas há fatores que variam conforme a região, incluindo guerras, turbulências políticas, mudanças climáticas e catástrofes naturais. No Brasil, a causa principal é o mau desempenho econômico desde a recessão de 2014-16.

Um novo trabalho da FGV Social, a partir de dados da pesquisa global Gallup (que também é referência para a ONU), aponta uma insegurança alimentar de 36% no país ao final de 2021, ligeiramente acima da média mundial de 35%.

As cifras podem variar conforme a metodologia, mas a tendência é indiscutível —e coerente com a fragilidade da economia. Nos últimos oito anos, o Produto Interno Bruto nacional encolheu em 1,6%. No mesmo período, a renda média por habitante, em valores corrigidos pela inflação, caiu de R$ 44,1 mil para R$ 40,7 mil anuais.

Depois da crise provocada pelo colapso das finanças públicas sob Dilma Rousseff (PT), o PIB apresenta taxas baixas de crescimento, o que deve se repetir neste ano depois de superada a contração da pandemia. Agora, é Jair Bolsonaro (PL) quem segue a trilha da irresponsabilidade econômica.

A agravar o quadro, a inflação crescente no mundo como efeito da Covid-19 e da guerra na Ucrânia atinge com força os alimentos e, portanto, a população mais pobre do país. Em tal contexto, reduz-se drasticamente a eficácia dos programas de seguridade social, em particular do Auxílio Brasil, na superação da miséria e da fome.

editoriais@grupofolha.com.br

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