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Marcia Hirota e Luís Fernando Guedes Pinto

Mata atlântica pede socorro novamente

Alta estrondosa de 66% no desmatamento ameaça a biodiversidade e o futuro

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Marcia Hirota e Luís Fernando Guedes Pinto

Respectivamente, diretora-executiva e diretor de conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica

Os resultados do relatório anual do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica voltam a ser muito preocupantes. O documento anual, produzido desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que perdemos 21,6 mil hectares de florestas naturais em 2021. Isso equivale a 59 hectares ou campos de futebol por dia ou 2,5 hectares por hora.

O resultado é 66% superior ao do ano anterior, o mais alto desde 2015 e 90% maior do que o menor valor da história, alcançado em 2018. O aumento do desmatamento foi estrondoso, e as florestas perdidas lançaram 10,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

Vista de região da Mata Atlântica na serra carioca
Vista de região da mata atlântica na serra carioca - Yuri Menezes/SOS Mata Atlântica

Além de acentuar o aquecimento global, aumentar o risco de eventos climáticos extremos e desastres naturais que ameaçam a vida e a economia, a perda da mata atlântica também amplia os riscos de crises hídricas e apagões elétricos no Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Petrópolis, Angra dos Reis, Paraty, Curitiba, municípios da Bahia, Minas Gerais e Grande São Paulo são testemunhas.

Como o Atlas monitora os fragmentos de florestas maduras da mata atlântica, também implica que estamos perdendo as matas que abrigam as espécies vegetais e animais mais raras e ameaçadas de extinção, o último reservatório da biodiversidade de um dos biomas mais diversos do mundo. Estamos perdendo a memória e a sabedoria da floresta e comprometendo o nosso futuro.

O desmatamento aumentou em praticamente todos os estados. Como de costume, infelizmente, está concentrado em algumas regiões de Minas Gerais, Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul, que acumulam 85% do total. Também é alarmante o avanço em estados que estavam se aproximando do fim definitivo do desmatamento, como São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco, revertendo uma trajetória conquistada a duras penas.

As matas ainda são substituídas principalmente para serem ocupadas por pastagens e culturas agrícolas. Em seguida vem a pressão da expansão urbana e da especulação imobiliária ao redor das grandes cidades e no litoral.

O fim imediato do desmatamento e a restauração da mata atlântica estão ao nosso alcance e são fundamentais para garantirmos os serviços ecossistêmicos essenciais para 70% da população que vive nos 17 estados abrangidos pelo bioma. O respeito à Lei da Mata Atlântica e ao Código Florestal são os primeiros passos, que podem ser turbinados pelo tão almejado crédito de carbono.

Mas sonhar com o carbono da restauração enquanto ainda estamos destruindo nossas florestas naturais é uma grande ingenuidade de muitos governantes e investidores. Não é possível fazer vestibular sendo reprovado no ensino fundamental. Frear os retrocessos no Congresso e no governo federal até o final de 2022 e aguardar a renovação dos nossos Poderes Legislativo e Executivo estaduais com firme compromisso socioambiental são as bases da esperança para o futuro.

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