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Robôs humanos

Empresas se dedicam a promover percepções falsas de repercussão em redes sociais

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Homem de chapéu e roupa de fazendeiro colhe "likes" (polegar para cima de símbolo de gostei no facebook) de uma árvore
Fazendas de cliques - Catarina Pignato

Há algo de podre no reino das redes sociais. Num ambiente em que o número de seguidores, curtidas, comentários e compartilhamentos constitui a medida de todas as coisas, vê-se que empresas inflam artificialmente o "engajamento" de seus clientes por meio de contas falsas em plataformas como TikTok, Facebook e Instagram.

Esses perfis inautênticos são controlados por pessoas que, atraídas por promessas de ganhos extras, chegam a gerir até 500 contas diferentes, convertendo-se em verdadeiros "bots" (ou robôs) humanos.

Trata-se de uma prática que, obviamente, gera percepções falsas de relevância e repercussão.

Uma quantidade maior de curtidas ou seguidores termina por trazer mais visibilidade àqueles que contratam o serviço, como celebridades e políticos, chamando a atenção de marcas interessadas em patrocinar os perfis e fazendo com que estes sejam privilegiados pelos algoritmos das redes, num ciclo que se retroalimenta.

Ações do tipo violam os termos de uso da maioria das redes sociais que, ao detectarem-nas, costumam suspender ou bloquear os perfis falsos. Há, contudo, uma miríade de truques circulando pela internet para fazer com que as contas pareçam autênticas e consigam driblar as punições que a manipulação artificial pode acarretar.

A fim de compensar os baixos rendimentos recebidos, já que o pagamento por interação varia de R$ 0,001 a R$ 0,05, os usuários são incentivados a criar múltiplas contas. Para tanto, valem-se de softwares oferecidos pelas próprias empresas que os contratam.

Tais recursos permitem ações de forma automatizada —ampliando, assim, o alcance da fraude.

Os números desse mercado são desconhecidos, mas um estudo recente oferece alguns indícios de sua magnitude a partir da quantidade de acessos individuais às principais plataformas de cliques.

Em junho de 2021, a Dizu teve 1,3 milhão de visitantes únicos, seguida da GanharNoInsta, com 1,2 milhão, da SigaSocial (276 mil), da Kzom (190 mil) e da Everve (67 mil).

Embora inexistam no país leis que vedem a comercialização desse impulsionamento artificial, a situação pode mudar caso a Lei das Fake News venha a ser aprovada pelo Congresso —uma vez que o projeto de lei estabelece regras que buscam obstar o funcionamento de contas falsas nas redes.

Mas é difícil acreditar que uma lei possa ter alcance amplo se as próprias redes não agirem de forma mais decidida contra o problema.

editoriais@grupofolha.com.br

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