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Henrique Cury

Biossegurança é questão de saúde pública

Pandemia evidenciou que qualidade do ar em ambientes internos exige atenção

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Henrique Cury

Membro do Qualindoor (Departamento Nacional de Qualidade de Ar Interno) da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) e presidente da Ecoquest

Biossegurança é um das "lições de casa" deixadas pela pandemia. A transformação de espaços em ambientes saudáveis já faz parte das novas exigências sanitárias mundiais. O tema ganhou relevância, e há uma preocupação maior para que o "novo normal" e o retorno das pessoas ao trabalho presencial, aos restaurantes, cinemas, teatros —enfim, ao convívio em sociedade— ocorra de maneira segura. E isso inclui, de forma irreversível, a qualidade do ar, evitando a disseminação de vírus, bactérias e fungos dentro dos ambientes. Segundo a EPA (agência de proteção ambiental americana), a qualidade do ar interno pode ser de duas a cinco vezes pior que a do ar externo.

Diferentemente de países europeus e, principalmente dos Estados Unidos (referência na elaboração das normas), o Brasil nunca conseguiu levar adiante o debate sobre a importância da qualidade do ar interno, envolvendo os órgãos governamentais e a sociedade. Apesar da legislação vigente, nunca houve uma fiscalização adequada nem conscientização por parte da sociedade.

A pandemia da Covid-19 trouxe luz a este assunto e, após mais de um ano, o mercado foi inundado por informações, protocolos e tecnologias dos mais variados tipos. O excesso de informação desnorteou o mercado que, muitas vezes, sem embasamento técnico, acaba utilizando equipamentos sem eficiência comprovada cientificamente que podem, em alguns casos, até piorar a qualidade do ar.

Em face disso foi criado, no ano passado, o PNQAI (Plano Nacional de Qualidade do Ar Interno), que reúne mais de 30 organizações, como Fiocruz, Confea, USP e Senai, dentre outras de igual importância. Integrantes do plano vêm se reunindo regularmente e trazendo ao debate o que há de mais eficiente, seguro e legalmente embasado para termos um ar adequado. Estudos das universidades Harvard e Carnegie Mellon, nos EUA, demonstram que espaços saudáveis estão diretamente ligados ao aumento da produtividade e à redução do absenteísmo. Isso impacta diretamente na saúde mental e física dos funcionários.

Os escritórios de alto padrão na cidade de São Paulo, por exemplo, estão voltando a ser frequentados em praticamente em sua totalidade. O fluxo da população fixa e variável dos prédios é de cerca de 60% dos níveis normais (período pré-pandemia), podendo a chegar em 100% em alguns casos. Esse percentual, um ano atrás, auge de pandemia de Covid-19, era de apenas 12%, segundo levantamento da consultoria imobiliária Newmark.

Recente pesquisa das entidades internacionais Bentall GreenOak, Center for Active Design e United Nations Environment Programme Finance Initiative mostra que 92% dos investidores imobiliários têm expectativas de que a demanda por edifícios saudáveis cresça nos próximos três anos. E 86% deles afirmam que querem implementar mais ações de bem-estar e saúde em suas empresas.

A qualidade do ar interno é uma questão de saúde pública, e a pandemia nos mostrou isso da forma mais explícita possível.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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