Apesar de uma campanha repleta de ataques e discursos apocalípticos de ambos os lados, o segundo turno da eleição presidencial na Colômbia transcorreu sem maiores sobressaltos, consagrando como vitorioso Gustavo Petro.
Ele venceu o candidato populista Rodolfo Hernández por um placar apertado de 50,4% a 47,3%, no pleito mais acirrado dos últimos 28 anos. Tendo disputado o cargo pela terceira vez, o ex-prefeito de Bogotá vai se tornar agora o primeiro líder de esquerda da história do país sul-americano. Adicionalmente, conta com uma mulher negra como vice, Francia Márquez.
Para alcançar esse triunfo inédito, Petro precisou, mais do que superar seu adversário, vencer as resistências que seu passado de ex-integrante do grupo rebelde M-19, desmobilizado em 1990, ainda geram num país traumatizado por décadas de conflitos envolvendo guerrilhas armadas de esquerda.
Procurou afastar-se de regimes ditatoriais do continente, como Cuba e Venezuela, e, ao contrário do que fez nos pleitos anteriores, apresentou-se com perfil mais moderado, buscando articular acordos com setores empresariais.
Assim como em outras eleições recentes na América do Sul, a votação colombiana foi marcada pela rejeição ao establishment político e por um forte desejo de mudança —o que pode ser medido, numa nação em que o voto não é obrigatório, pela maior participação eleitoral desde a década de 1970.
Petro governará um país que, embora venha conseguindo se recuperar economicamente do tombo sofrido durante a pandemia, ainda sofre seus efeitos sociais nocivos.
Se o Produto Interno Bruto da Colômbia registrou em 2021 o maior crescimento de sua história (10,6%), hoje cerca de 40% da população vive na pobreza e o desemprego alcança 12%.
Além da urgência de enfrentar tal situação, o ex-prefeito de Bogotá assume a Presidência com uma agenda ambiciosa de reformas.
Dentre seus principais objetivos, destaca-se a promessa de diminuir a dependência de petróleo e carvão, tornando o país um modelo de combate à mudança climática na região. Ele também busca implementar uma reforma agrária, aumentar os impostos dos colombianos mais ricos e renegociar tratados de livre-comércio.
A isso se soma a reestruturação dos sistemas de saúde e educação, bem como a implementação de pontos do pacto que resultou no fim das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Concorre contra tais pretensões a escassa base de apoio parlamentar obtida por Gustavo Petro. Sua coalizão, Pacto Histórico, dispõe de menos de um quinto dos assentos do Congresso bicameral.
Afora o caso do Brasil, onde Jair Bolsonaro (PL) buscará uma reeleição difícil, a esquerda tem obtido triunfos nas maiores economias latino-americanas —México, Argentina, Chile, Peru e, agora, Colômbia. Já as condições atuais de governo, num mundo de pandemia, inflação e risco de recessão, são hostis a todas as ideologias.
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