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O que a Folha pensa cracolândia

Endereço degradado

Centro de São Paulo tem sido objeto de planos frustrados; é preciso repovoá-lo

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População de rua no centro de São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

Em maior ou menor grau, a degradação de áreas centrais é um fenômeno urbanístico que atinge boa parte das metrópoles do planeta. Esvaziamento do uso residencial, estrutura obsoleta para automóveis e o deslocamento de eixos financeiros para outros bairros explicam, em parte, o problema.

Observada há décadas, a deterioração do centro de São Paulo tornou-se mais aparente com o crescimento expressivo da população de rua e, mais recentemente, em razão das operações policiais que tentam neutralizar a cracolândia.

Nesse contexto, a ideia de transferir a sede do governo paulista do Morumbi, bairro nobre da zona sul, para próximo do agora itinerante feirão de drogas suscitou debates entre políticos e urbanistas.

A proposta foi aventada pelo pré-candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para o ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL), trazer "o centro do poder" ajudaria na revitalização da região e até a acabar com a cracolândia.

O plano não constitui novidade: em 2008, o então governador José Serra (PSDB) cogitou trocar o Bandeirantes pelo Palácio dos Campos Elíseos, ideia abandonada pelos seus sucessores.

Joia arquitetônica, a sede do comando do estado de 1912 a 1965 foi restaurada duas vezes —na última delas por R$ 20 milhões— e está sem uso. A promessa é que venha a abrigar o Museu das Favelas.

Muitos outros projetos ficaram pelo caminho. O mais ambicioso deles, o Nova Luz, previa uma revolução urbanística em 44 quarteirões, inclusive na área onde atuava o tráfico de crack. Concebido no começo da década passada pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), também acabou engavetado.

Às intervenções frustradas somam-se a derrubada ou transformação em parque do Minhocão, via elevada na região degradada, e o Renova Centro, programa que pretendia desapropriar prédios para transformá-los em habitações populares, mas que pouco avançou.

A depender do plano, a transferência de edifícios públicos para a zona central pode ser bem-vinda, como já ocorreu com a prefeitura paulistana, em 1992, e agora com o hospital da mulher Pérola Byington, que deve começar a atender no segundo semestre.

Entretanto faz-se necessário também um amplo programa de repovoamento, que aproveite prédios sem uso e vislumbre investimentos em espaços de uso comunitário, como parques e equipamentos culturais e esportivos. Mais do que ocupar o centro, é preciso vivê-lo.

editoriais@grupofolha.com.br

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