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Dilema entre comida e aluguel empurra moradores para favelas e ruas paulistanas

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Ocupação Jorge Hereda, na zona leste de São Paulo, um dos conjuntos de moradia precária formados na pandemia - Danilo Verpa/Folhapress

O desemprego e a renitente crise econômica, exacerbados após mais de dois anos de pandemia, têm provocado efeitos nefastos na já precária infraestrutura habitacional da cidade de São Paulo.

Para parte da população mais vulnerável, a solução entre comer e pagar o aluguel é viver em favelas —isso sem contar os que não conseguem escapar da situação de rua: o número de sem-teto avançou 31% durante a crise sanitária, atingindo ao menos 31.884 pessoas.

Dados da gestão Ricardo Nunes (MDB) revelam que a capital ganhou 6.000 domicílios em favelas entre 2019 e 2022. Do total, 5.100 barracos foram erguidos nos últimos dois anos. Somam-se agora 1.739 comunidades e quase 400 mil lares —o que põe fim a certa estabilidade observada desde 2017.

Os aumentos da inadimplência, em contas de água, luz e gás, e das ações de despejo, que segundo o Tribunal de Justiça paulista cresceram 70% entre 2020 e 2021, ajudam a explicar o quadro desolador.

O fenômeno só não é mais grave, em São Paulo e em todo o país, devido a liminares concedidas pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, que interromperam ordens de desocupação durante a epidemia.

A última decisão de Barroso determina que a norma tenha vigência só até quinta-feira (30), o que pode colocar em risco, conforme afirmou o próprio magistrado no documento, mais de 132 mil famílias brasileiras. O prazo pode ser estendido diante da recente alta nas taxas de internação por Covid.

Com ou sem pandemia, as projeções sobre a falência habitacional paulistana são alarmantes. Estudo da consultoria Econnit estima que, até 2030, a metrópole terá de construir 73 mil moradias por ano para zerar a demanda futura e o déficit atual —algo como o triplo das 24 mil unidades hoje entregues anualmente.

É certo que qualquer alívio, para os cerca de 2 milhões de paulistanos que vivem em espaços indignos, passa pela melhora da conjuntura econômica e na retomada dos empregos. Tais fatores são mais afetados, a longo prazo, pelas decisões da esfera federal, além da evolução do cenário externo.

Mas isso não exime os governos, em todos os níveis, de ampliarem suas políticas, seja em programas de impacto imediato, como o pagamento de auxílio aluguel, seja em iniciativas como construção de conjuntos populares, requalificação de imóveis desocupados e estímulos ao mercado imobiliário com vistas à baixa renda.

editoriais@grupofolha.com.br

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