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O que a Folha pensa Caixa Econômica Federal

Fora da Caixa

Acusações de assédio exigem apuração; tolerância à prática, felizmente, diminuiu

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Pedro Guimarães, que deixou a presidência da Caixa Econômica Federal - Ueslei Marcelino - 2.mar.20/Reuters

A permanência de Pedro Guimarães no comando da Caixa Econômica Federal tornou-se insustentável, e o executivo pediu demissão na quarta-feira (29), um dia depois de virem a público acusações de assédio sexual praticado por ele.

Reveladas pelo portal Metrópoles, tratam de toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites inapropriados —relatos que o agora ex-dirigente da CEF classifica como falsos.

Uma funcionária ouvida pela Folha afirmou que, ao tentar sair da sala, o então presidente do banco a puxou pelo pescoço e disse: "Estou com muita vontade de você".

Segundo servidoras, os episódios ocorriam dentro e fora da instituição, na frente de outras pessoas ou de forma reservada. Comenta-se que ao componente sexual se somaria o assédio moral.

O caso, de acordo com o Metrópoles, está sob inquérito sigiloso no Ministério Público Federal, e o Ministério Público do Trabalho deu dez dias para a Caixa e Guimarães se manifestarem.

Incluir o próprio banco nas apurações faz sentido porque, segundo pessoas ouvidas pelo jornal O Globo, as denúncias vão além do ex-presidente da instituição e teriam sido recebidas internamente com um esforço para abafá-las.

É possível que essa intenção prevalecesse se não fosse a atuação da imprensa, pois poucas coisas são tão típicas do governo Jair Bolsonaro (PL) quanto as tentativas de bloquear os órgãos de controle.

Dar livre fluxo às investigações, contudo, é sempre o melhor remédio. Se as notícias estiverem equivocadas, como Guimarães alega, sua inocência restará provada ao final do exame minucioso e imparcial dos fatos. Se estiverem corretas, ele será julgado nos termos da lei.

Seja qual for o veredito, o episódio serviu para mostrar o quanto a sociedade amadureceu no repúdio ao assédio sexual, uma conduta intolerável em qualquer ambiente.

Décadas atrás, era comum que vítimas de assédio fossem transformadas em agentes de seu próprio infortúnio e silenciadas numa cultura machista.

Se o Brasil ainda está longe de ser um país no qual as mulheres possam se sentir protegidas desse tipo de comportamento, há sinais de avanço quando a justa manifestação pública força uma reação institucional —para a qual contribuiu, ressalve-se, o temor de um desgaste perto das eleições.

Há de chegar o dia, porém, em que o assédio sexual será exceção, não regra, e em que a reação institucional se dará não por simples medo das urnas, mas pelo reconhecimento do que é justo e ético.

editoriais@grupofolha.com.br

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