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Movimento profundo

Aumenta rejeição à intolerância e cresce apoio ao intervencionismo econômico

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Movimentação na Parada do Orgulho LGBTQ, na Avenida Paulista, em São Paulo - Bruno Santos - 3.jun.18/Folhapress

A agitação na superfície da política dificulta enxergar tendências, mas abaixo o movimento costuma ser lento e efetivo. Nesse registro, o Datafolha captou a transição dos brasileiros aptos a votar rumo a mais tolerância nos costumes e maior apoio à intervenção do governo na economia.

O questionário desenvolvido pelo instituto no início da década passada estimula o eleitor a posicionar-se sobre dicotomias. A homossexualidade deve ser aceita ou desencorajada? O governo é o maior responsável por investir na economia ou são as empresas privadas?

A bateria comporta dez antagonismos e abrange temas econômicos e comportamentais. De acordo com a composição das respostas, o entrevistado é alocado em uma de cinco posições da escala ideológica: esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita.

A trajetória desde 2013 corrobora a hipótese de que o brasileiro primeiro se aproximou de posições associadas à centro-direita e à direita —como o endosso à posse de armas e à livre competição empresarial— e mais recentemente se acerca de bandeiras identificadas com a centro-esquerda e a esquerda —como a valorização dos imigrantes e dos sindicatos.

Outro recorte permitido pela pesquisa mostra que posições liberais nos costumes voltam a ganhar força, enquanto na economia são impulsionadas em geral as opiniões iliberais, que chancelam maior atuação do Estado nos negócios.

A boa notícia é que se avoluma a maioria popular que rejeita a agenda de intolerância propagada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Abraçar aberta ou veladamente discursos como o armamentismo e a homofobia vai custar votos a quem se arriscar nesse caminho.

Já o incremento das opiniões intervencionistas na economia deve ser visto com preocupação, uma vez que essas ideias populistas encontram ressonância em Bolsonaro, em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e na maioria que controla o Congresso, o chamado centrão.

A estagnação de uma década da economia, que obstruiu o caminho para a prosperidade de gigantescos contingentes situados abaixo ou pouco acima do limiar da pobreza, há de explicar ao menos parte do anseio para que um Estado interventor dê jeito na situação.

Já políticos profissionais, responsáveis e tarimbados não deveriam se esquecer das lições do passado recente nem das limitações impostas pelas contas públicas.

A reincidência na aventura do Estado demiurgo, que se pretende mais sábio que a sociedade nas decisões econômicas, está fadada a produzir um novo desastre e a prolongar o empobrecimento do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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