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Recessão no radar

Juro sobe pelo mundo para deter preços; no Brasil, risco fiscal agrava o quadro

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Operadores na Bolsa de Nova York - Brendan McDermid/Reuters

Com a inflação nas alturas em quase todo o mundo, os juros globais sobem em velocidade não vista em pelo menos três décadas. Em poucos dias, alguns dos principais bancos centrais elevaram agressivamente o custo do dinheiro, num sinal de que a era de taxas perto de zero nos países desenvolvidos pode de fato ter ficado para trás.

O americano Federal Reserve lidera o movimento. Pressionado pela aceleração dos preços nos Estados Unidos, que chegou a 8,6% em 12 meses, a instituição decidiu elevar a taxa básica de 1% para 1,75% ao ano, o maior salto em apenas uma reunião desde 1994.

Não se trata de um evento único. Ao contrário, os membros do Fed indicaram que pretendem continuar a subir os juros de modo contundente, para até 4% no primeiro semestre de 2023. A pressa decorre da percepção de que o descontrole inflacionário, se persistente, acabará por contaminar expectativas de longo prazo e salários.

Nesse caso, haveria maior inércia no processo de formação de preços, um fenômeno bastante conhecido no Brasil que eleva o custo de trazer os índices de volta às metas oficiais. O risco de uma recessão cresce em tal cenário.

Outras autoridades monetárias seguem o mesmo caminho. Até mesmo nos países em que a inflação era quase uma desconhecida, casos da Suíça e do Japão, os juros disparam no mercado.

Apesar de o Fed sugerir que ainda espera estabilizar a moeda sem uma recessão, a crença de investidores e analistas nessa possibilidade é cada vez menor.

A queda aguda das Bolsas de Valores e o aumento do juro pago por famílias e empresas para se financiarem desde o início do ano já contrata uma significativa desaceleração da economia mais à frente, e a distância para uma contração pode não ser tão grande.

Foi nesse ambiente dramático que o Banco Central brasileiro decidiu por elevar mais uma vez a taxa Selic, de 12,75% para 13,25% ao ano. Tal como no exterior, a inflação continua a desafiar prognósticos de queda, mas ao menos aqui o ciclo monetário está mais adiantado e o nível atual já é restritivo.

Apesar de surpresas positivas nos últimos meses que indicam uma expansão do Produto Interno Bruto próxima a 2% neste ano, o prognóstico para o segundo semestre e o ano que vem é de piora.
Daí o BC ter indicado cautela adiante, ao mencionar a continuidade do movimento, embora em velocidade provavelmente menor.

Mesmo assim, houve menção aos riscos locais, notadamente os relacionados às iniciativas eleitoreiras para cortar custos de combustíveis ao custo de maior dívida pública. Diante do quadro global, não cabe flertar mais com o perigo.

editoriais@grupofolha.com.br

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