O vale-tudo irresponsável patrocinado por Jair Bolsonaro (PL) para tentar amenizar a situação dos eleitores na campanha eleitoral não esconde o fato de o país ter empobrecido durante sua gestão.
O Brasil ficou mais pobre com Bolsonaro não apenas por causa da Covid-19 ou da guerra na Ucrânia, dois eventos extraordinários que abalaram o mundo e trouxeram desafios para vários governos.
Apesar de a maioria deles estar convivendo com surtos inflacionários e desarranjos internos, comparativamente estão em situação mais favorável. Segundo pesquisa em cem países da Nielsen Media Research, 64% dos brasileiros afirmam sofrer restrições orçamentárias após a fase aguda da crise sanitária. Na média global, são 46%.
De acordo com o IBGE, o rendimento médio mensal dos brasileiros hoje é menor, descontada a inflação, do que quando Bolsonaro assumiu: R$ 2.613, ante R$ 2.823 no início de 2019.
No dia a dia, além da piora nas estatísticas relativas à fome, a perda de poder aquisitivo é explicitada pela busca generalizada da indústria em oferecer produtos de pior qualidade aos consumidores.
Mesmo antes de a pandemia atingir o país, em fevereiro de 2020, o rendimento médio dos brasileiros já era menor do que no começo do governo Bolsonaro, consequência das escolhas do início da gestão, como a de diminuir investimentos públicos na área social e ignorar a fila de beneficiários de programas de distribuição de renda.
Em 2019, o Bolsa Família sofreu a maior queda da história, recuando o atendimento de 14 milhões para 13 milhões de famílias; e a fila de espera superou 1,5 milhão.
Após a introdução do auxílio emergencial de R$ 600 na pandemia, no final de 2021 o governo substituiu o Bolsa Família pelo Auxílio Brasil de R$ 400, para cerca de 17,5 milhões de beneficiários. Agora, a três meses da eleição, fez aprovar no Congresso o valor de R$ 600 a 18,1 milhões de famílias —mas só até dezembro.
Não resta dúvida de que algo deveria ter sido feito. Mas não são pequenas as falhas do programa, como o pagamento do mesmo valor a todos, independentemente do número de filhos nas famílias.
Mais grave é o fato de um governo que se vendeu como modernizante não ter aprovado nenhuma grande reforma estrutural, à exceção da previdenciária, gestada por seu antecessor, Michel Temer. Outras mudanças fundamentais, como as reformas tributária e administrativa, foram abandonadas ao longo do caminho.
Ao priorizar o populismo fiscal em seu último ano, Bolsonaro só reforça a expectativa de um legado de inflação, baixo crescimento e empobrecimento futuros.
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