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Claudio Lottenberg

Brasil precisa de mais políticas de Estado na saúde

Candidatos deveriam aproveitar oportunidades para repensar projetos após 2 anos de pandemia

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Claudio Lottenberg

Oftalmologista, é presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e do Conselho Deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein

Boas políticas de governo são aquelas que se incorporam às políticas de Estado. Ultrapassado o processo eleitoral, o bom governo é aquele que constrói base sólida para mudanças que se mostrem estruturantes ao longo do tempo. E, dentre essas, da maior importância são as questões sociais: se bem estruturadas, teriam enorme efeito positivo na geração de renda e na inclusão.

Estudos feitos no Canadá revelam que despesas com adolescentes mantidos em reformatórios chegam a US$ 100 mil por ano por indivíduo; um estudante em escola regular, por sua vez, custa US$ 12 mil ao ano.
Não só isso: cada dólar investido no programa pré-escolar produz lucro de US$ 7, para crianças, e de US$ 13, para adultos. A educação merece e necessita estar no foco —e ainda mais neste momento, em que precisamos resgatar o que foi perdido ao longo dos últimos dois anos.

Profissional de saúde usa computador para iniciar teleconsulta em Bagre (PA) - Divulgacao

A mesma pandemia que nos custou tanto em vidas traz, além disso, a necessidade e a oportunidade de reposicionar a saúde como prioridade dentro dos programas de governo.

O SUS (Sistema Único de Saúde) revelou-se um ativo estratégico inestimável dentro do marco constitucional. Ele traz custos, é verdade, mas salva vidas. São necessárias mudanças significativas: as doenças crônico-degenerativas seguirão importantes, mas a atenção às doenças infecciosas e ao câncer precisa de ser redimensionada.

A palavra-chave é oportunidade, e é preciso agir já. A sociedade já lida com mais facilidade com a ideia do autocuidado, da boa ciência e da segurança à assistência. Isso se integra a um quadro de valores —universalidade, integralidade e equidade— que hoje se incorporam às raízes do SUS.

Muito antes, então, que se coloque à frente debates em torno de medicina personalizada, robótica e terapia genética, ainda é preciso agir na raiz —justamente nesse trio de conceitos, que deveriam ganhar aplicação prática. Programas de governos são oportunidades para isso.

A atenção primária, por exemplo, tem que ser ainda mais fortalecida. Os vínculos das pessoas com esse modelo devem ser firmemente consolidados. Dessa forma, haverá maior adesão não só ao já citado autocuidado, mas também a programas de vacinação e a tratamentos e acompanhamentos. Tudo isso se traduz em maior eficiência no uso de recursos públicos.

A transformação digital ora em curso tem, obrigatoriamente, que fazer parte desse modelo. Um grande passo nessa direção foi dado recentemente, com a regulamentação de normas e processos para a telessaúde.

A digitalização de serviços, hoje um processo irreversível, vai permitir uma enorme ampliação do acesso ao atendimento de saúde: os dados que alimentarão os sistemas digitais ajudarão a direcionar prioridades e racionalizar recursos.

Serão fundamentais para que a IA (Inteligência Artificial) se torne operacional —e ainda mais em conjunto com a chamada IoT (Internet das Coisas, na sigla em inglês), que automatiza e amplia a segurança.
A pandemia também revelou a situação frágil em que se encontra um mercado consumidor de mais de 200 milhões de pessoas, que não conta com políticas de estímulo ao complexo industrial da saúde, forte gerador de empregos e conhecimento.

Aqui, há oportunidades igualmente, que o país deve incluir em sua agenda —da indústria farmacêutica à de aparelhos, tecnologia da informação e mesmo construção civil. A lista não para aí.

Políticas públicas não são, não deveriam ser, fruto de um governo. Devem ser um trabalho de permanente construção. A sociedade é um sistema dinâmico, com demandas e necessidades que mudam e crescem. Nessa construção, essa mesma sociedade tem de ser protagonista.

Em períodos de eleições no futuro próximo, temos de estar atentos ao que os candidatos irão apresentar em termos de projetos de saúde. Precisamos de planos que sejam construções de Estado, para maior benefício de todos.


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