Uma prova ("foretaste") do futuro: assim a Organização Meteorológica Mundial (OMM) resume a onda de calor que ora varre países europeus. Em Portugal, 1.063 óbitos em excesso entre os dias 7 e 18 se encontram sob investigação por provável ligação com o clima.
O Reino Unido vive recordes de temperatura batidos em sucessão vertiginosa. A marca anterior, de meros três anos atrás, era 38,7ºC. Aí vieram na terça-feira (19) 39,1ºC em Surrey; poucas horas depois, 40,2ºC no aeroporto de Heathrow e 40,3ºC em Coningsby.
Bombeiros londrinos, que em dias normais atendem 300 a 350 chamados, viram-se assoberbados por 1.600 emergências. Faltaram ambulâncias para socorrer pessoas com dificuldades respiratórias, tonturas e desmaios. Viagens de trem foram suspensas em decorrência de trilhos deformados.
Matas secas e abrasadas pegam fogo num átimo, e os incêndios se espalham por Reino Unido, Portugal (onde 115 pessoas morreram em 2017), Espanha, França, Itália, Grécia... Nos EUA as chamas ardem em 12 estados, até no Alasca.
Termômetros a ultrapassar 40ºC não escandalizam habitantes do Rio de Janeiro ou do sertão nordestino, mas têm efeito arrasador na Europa. Moradias e meios de transporte sem ar-condicionado ou ventilação adequada se transformam em armadilhas para idosos.
A canícula incomum e precoce, ultrapassando temperaturas que só ocorrem em agosto ou setembro, pode prolongar-se até a próxima semana. Teme-se que repita o desastre de 2003, quando estimadas 30 mil mortes aconteceram no continente, 14 mil delas na França.
E não é só a Europa. Na Índia e no Paquistão, centenas de milhões de pessoas haviam padecido sob temperaturas entre 43ºC e 50ºC em abril e maio.
Há pouca dúvida de que eventos assim extremos resultam das mudanças climáticas, com o aquecimento global impulsionado pela queima de combustíveis fósseis e florestas. Calcula a OMM que a crise do clima multiplica por 30 a probabilidade de tais ondas de calor.
No cenário internacional, grassam a inação e a imprudência. Para evitar o pior, seria necessário cortar pela metade as emissões de carbono até 2030 e zerá-las até 2050, mas governos nacionais descumprem metas do Acordo de Paris (2015), quando deveriam apertá-las.
Considere-se o péssimo exemplo do Brasil, que tem no desmatamento sua maior fonte de poluição climática: em 2021 a devastação subiu 20%, em todos os biomas, não só na floresta amazônica. Alta que se repete pelo terceiro ano, insuflada de modo deliberado pelo desgoverno de Jair Bolsonaro.
Um aperitivo do futuro, sim, e bem amargo.
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