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Ricardo Viveiros

Difícil equação

Bolsonaro usa a antiga fórmula de transformar opositor em demônio

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Ricardo Viveiros

Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de ‘A Vila que Descobriu o Brasil’ (Geração), ‘Justiça Seja Feita’ (Sesi) e ‘Pelos Caminhos da Educação’ (Azulsol)

Como se faltassem temas de efetivo interesse da sociedade, o presidente Jair Bolsonaro segue se ocupando em atacar as urnas eletrônicas. Autocrático, conflita com os demais Poderes, a imprensa e qualquer um que não concorde com ele.

Seus correligionários, os que restaram após uma gestão catastrófica, em sua maioria manipulados pela cultura do ódio —vazia defesa quando faltam argumentos—, empregam o que se convencionou denominar "linguagem memética". Algo originado no que Richard Dawkins conceituou em "O Gene Egoísta". Trata-se da unidade fundamental conceptual da memória. Ou seja, para Bolsonaro e seus seguidores, não há adversários políticos, só inimigos.

Quem discorda dele é contra ele e, obrigatoriamente, a favor de seu concorrente. Isso é falta de entendimento da realidade. Discordar não é radicalizar. Inexiste no bolsonarismo a consciência de que o debate de ideias traz luz, gera opções. O obscurantismo em que Bolsonaro está mergulhado garante a certeza de que o mundo reduz-se a ele, ao seu entendimento das coisas e nada além.

Uma conduta que dividiu o Brasil em dois: os contra e os a favor. Um retrocesso ao que de pior já existiu na política. É preciso curar o Brasil dessa grave doença, dessa depressão cívica. A ardilosa conduta de Bolsonaro tem obtido resultados ao desacreditar o processo eleitoral, atacar o STF e agredir a imprensa —ferindo a democracia. A rigor, tem criado um clima de golpe e espalhado medo sob a antiga fórmula de transformar o opositor no demônio, para que não reste outra saída senão ele, o suposto "salvador da pátria".

Ao pôr em dúvida a seriedade das autoridades, minar estruturas do Estado e criar e disseminar fakes news, Bolsonaro busca enfraquecer perante a sociedade quem pode agir dentro da lei contra ele. E vale lembrar que, nesta gestão, tivemos um aparelhamento na estrutura pública federal, com milhares de cargos entregues a militares das Forças Armadas, que estão gostando do poder, dos salários e das mordomias. Por outro lado, a inflação eleva o recolhimento de tributos pelo governo, que, além de gastar mal, põe recursos em ações populistas que atraem eleitores, mas geram sérias complicações econômicas para o futuro.

O grande desafio do novo presidente será governar com equilíbrio e respeito aos interesses da sociedade sem, é provável, ter maioria no Legislativo. O que se conhece do eleitor médio é o interesse em votar só nos candidatos a cargos majoritários. Para os parlamentos, a escolha não tem sido prática baseada em análises mais aprofundadas, tanto que, tempos após as eleições, parte significativa do eleitorado não sabe dizer em quem votou para a Câmara e o Senado.

Escolher e votar em deputados federais e senadores íntegros, capazes e realmente democratas, em especial nesta eleição, também será muito importante para dificultar golpes e garantir governabilidade e progresso.

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