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Ensino arejado

Datafolha mostra que maioria dos brasileiros é liberal quanto a conteúdo em aula

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Aula em escola pública de São Paulo - Fábio Pescarini/Folhapress

A nova pesquisa Datafolha sobre a educação escolar de crianças e adolescentes traz uma lufada de bom senso num tema que, nos últimos tempos, tem sido contaminado por querelas ideológicas completamente alheias às reais necessidades do ensino do país.

Coordenada pelas organizações Cenpec e Ação Educativa, a sondagem mostra que os brasileiros não compactuam, em sua maioria, com a agenda conservadora defendida por grupos religiosos e encampada pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Exemplo disso pode ser visto nas opiniões referentes à orientação sexual e identidade de gênero, que o bolsonarismo quer coibir em nome do combate a uma fantasmagórica "ideologia de gênero".

De acordo com o levantamento, 73% concordam que a educação sexual seja abordada no ambiente escolar e 81% defendem que os estabelecimentos de ensino promovam o direito das pessoas a viverem sua sexualidade.

Predomina entre especialistas o entendimento de que isso não induz ao sexo precoce nem constitui apologia da homossexualidade, à diferença do que pregam conservadores mais estridentes.

Em realidade, tal ensino colabora, e nisso concordam mais de 90% dos brasileiros, para a prevenção da gravidez na adolescência e o combate ao abuso infantil.

É escasso o apoio à bandeira do ensino domiciliar, tema que o governo trata como prioritário. Nada menos que 78% discordam de que pais tenham o direito de tirar os filhos da escola e ensiná-los em casa.

Uma proibição intransigente decerto seria exagero, mas essa parcela da população acaba por endossar a importância do professor no processo pedagógico e da interação com colegas e docentes no desenvolvimento dos estudantes.

As opiniões se mostram mais divididas quanto a falar de política em sala de aula. Para 56%, os professores deveriam evitar o tema, embora mais de 90% defendam que se discuta pobreza, desigualdade social e discriminação racial.

Se a preocupação com o proselitismo político é legítima, sejam quais forem as preferências manifestadas, a correção de eventuais excessos por meio da censura é equívoco ainda mais grave.

O caminho para melhorar o ensino brasileiro passa não pela luta ideológica, como quer fazer crer o bolsonarismo, mas pelo enfrentamento de problemas concretos —a exemplo da evasão escolar e da má formação do professorado.

editoriais@grupofolha.com.br

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